A distância de 'Estamos Juntos' (publicado originalmente em 21/6/2011)
Carmem é uma jovem médica residente. Ama seu trabalho no hospital público e ainda arruma um tempo para ser voluntária em bairro carente, falando sobre doenças sexualmente transmissíveis etc. Juan e Murilo são amigos de balada. Músicos, moram juntos. O segundo, gay, tem intenções com o primeiro. E o primeiro, argentino, é apaixonado por Carmen, colega de Elisa e parceira de um amigo sempre presente, sem nome no filme 'Estamos Juntos', em cartaz por aqui há alguns dias. Se lhe parece meio confuso, não o é quando se vê a fita de Toni Venturi, o mesmo diretor do grande documentário 'O Velho: A História de Luiz Carlos Prestes' (1997). Rodado em 2009, o longa foi terminado em 2010, só lançado agora em 2011.
Carmem (Leandra Leal) é antissocial, por isto egoísta. Seu amigo esquisito (Lee Taylor) a segue a todos os cantos, dando conselhos à médica. Murilo (Cauã Reymond) só quer o agito das suas noitadas de DJ. Juan (Nazareno Casero) deseja ensaiar a banda e os amores com Carmem. Porém, a jovem recebe em sua vida aquela surpresinha que a todos nós está sujeita. Com o rumo abalado, desfigurado e ressentido, o que a doutora pode fazer? O dilema de 'Estamos Juntos' persiste quase até o desfecho da trama. E é ruim.
O que mais me decepciona na película é a pretensão de ser o que definitivamente não é. Os seus enquadramentos tortos e capengas às vezes deixa o espectador com vontade de vomitar de enjoo. Com a fotografia em tons de bege e branco, imprime a vagareza aos acontecimentos. Mesmo tendo somente 95 minutos de duração, as coisas dão a impressão de se arrastar plano após plano. Não sei de T. Venturi quis impor o ritmo literário ao filme. Se tentou, teve péssimo resultado. O que importa é a relação história com público. Se funciona, tudo bem. Se não, tudo mal. Apesar de a trama ser de entendimento mole, peca pelo aspecto frágil, simultaneamente jactante. E aguenta-se pouco a Dira Paes em todos os filmes brasileiros.
Tem momentos em que assistir a uma produção tupiniquim cansa. Você tem rasa paciência para suportar aqueles quilos de patrocínio mostrados antes do início propriamente dito do filme. Os apoios de governos, prêmios em festivais (e no Brasil atualmente tem um para cada semana do ano) e o objetivo de deixar claro todo o balburdio deste tipo são fatores irritantes, pelo menos pra mim. Claro, a turma não põe os escritos no fim porque sabe que as pessoas saem da sala de exibição nada se importando com créditos.
Dentre as atuações, sem destaques. O elenco cumpre seu papel. Ponto. Até as cenas mais quentes são mostradas com parcimônia de corpos, o que faz pensar que Toni Venturi escondia alguma vergonha entranhada nele próprio. Leandra Leal é também produtora de 'Estamos Juntos' e, por ser a protagonista, reverte as atenções a si. É indiscutível o charme dela frente às câmeras e o toque de sensualidade em seu rosto. Entretanto, somente isto não salva o drama, pelo contrário, é o que o faz quase afundar, pois em um determinado momento senti que a fita inteira dependia da beleza dela. Muito pobre a quem almeja mais.
No Festival do Audiovisual 'Estamos Juntos' levou sete troféus. Significa algo? Evidente que não.
Mais textos em recantodasletras.com.br/autores/rodrigoromero