'É uma dor...' (publicado originalmente em 14/6/2011)
Então, finalmente, um filme bom aterriza por aqui. Não em Jacareí, mas no Cinemark de São José dos Campos. Trata-se de ‘Namorados Para Sempre’, produção do ano passado presente no Oscar de 2011 na categoria melhor atriz (Michelle Williams, viúva do ator Heath Ledger, o Coringa de ‘O Cavaleiro das Trevas’ –2009). Dirigido pelo não tão novato assim Derek Cianfrance –ele esteve à frente de projetos não emplacados, como alguns documentários e séries para TV, ‘Namorados Para Sempre’ compensou toda a sua carreira, pois contou história ao mesmo tempo emocionante, cotidiana e fincada com os pés no chão, sabendo das limitações e dificuldades. O próprio projeto demorou a sair do papel... O roteiro foi premiado em 2006 numa competição, rendendo um milhão de dólares aos autores – Cianfrance, Joey Curtis e Cami Delavigne. Em 2008, quando todos estavam prontos para filmar, Ledger morreu... O diretor decidiu assim adiar as gravações para ter Michelle disponível quando ela se recuperasse pela perda precoce do marido.
O romance ilustra o amor abalado entre Cindy (Michelle) e Dean (Ryan Gosling) depois de vários anos de casamento. Eles têm uma filha, Frankie (Faith Wladyka), e é a pequena o único elo entre os dois. Mas nada é como antes. Vivem o desprezo alheio. Dean ainda tenta ser mais gentil, convidando a esposa para passear e apostar na felicidade eterna. Cindy é realista. Insiste em querer o companheiro dos tempos idos, quando a paixão nem tinha tamanho. As atitudes insistem em não dar o resultado aguardado e desta maneira a distância aumenta e o amor se esvai. Pode parecer e soar que ‘Namorados Para Sempre’ é uma fita piegas, brega ou cafona. Engana-se quem pensar isto. É com o script pautado em delicadezas e frases bem acertadas que o filme ganha o espectador logo nas primeiras cenas. Joga-se o jogo da (re) conquista.
Indicado a prêmios, ‘Namorados Para Sempre’ ficou sem troféus, porém marcou 2010 como das melhores produções alternativas do ano. Michelle deu azar de concorrer com Natalie Portman em ‘Cisne Negro’. Se a bailaria não vencesse, a taça ficaria com Jennifer Lawrence (‘Inverno da Alma’). Disputaria com Nicole Kidman ('Reencontrando a Felicidade') e Annete Benning (‘Minhas Mães e Meu Pai’).
A viúva de Ledger parece ter colocado nas cenas toda a amargura e sensualidade despejada pelo desaparecimento do ator. A atriz exala voluptuosidade em frente às câmeras e ela está linda como nunca. Com certeza foi o filme de sua vida, embora sua carreira não seja antiga. Lembrei de ‘Antes do Amanhecer’ (1995) e ‘Antes do Pôr-do-Sol’ (2004) pelo amor impregnado.
A sequência derradeira de ‘Namorados Para Sempre’, com fogos de artifício, é das imagens mais encantadoras que vi até hoje. Se você gosta de cinema em tela grande, não em DVD na televisão, assista.
Assim que terminei de ver a fita, me veio logo na cabeça uma frase solta de Elis Regina dita nas gravações do programa 'Ensaio', em 1973. Ao acabar de interpretar 'Atrás da Porta', canção muito além de dramática de Chico Buarque, a gaúcha olha para Fernando Faro, diretor da atração, e clama, reticente: 'É uma dor...'. 'Namorados para Sempre' é isto, uma dor do começo até o seu final. E vale a pena sofrer nele.
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