A procriação de desavisados (publicado originalmente em 17/5/2011)
A minha sina de assistir a filmes cuja qualidade é bem abaixo aos de Ed Wood segue. Agora pude ver ‘Padre’ (2011), produção rodada em 2009 e de mau cheiro logo de cara. Aborda batalha sangrenta de humanos contra vampiros, séculos por séculos. A Terra está em ruínas e Padre (Paul Bettany, de ‘Código da Vinci’ – 2005), ex-combatente nas lutas, vive na obscuridade após um tempo guerreando. Entretanto, o nosso protagonista precisa voltar à ativa quando a sobrinha Lucy (Lilly Collins) é sequestrada pelo bando dos dentes afiados. Com os parceiros Hicks (Cam Gigandet) e Priestess (Maggie Q.), parte para a porrada.
Comparo ‘Padre’ às piores películas que vi nos últimos tempos. ‘O Apanhador de Sonhos’ (2003) e ‘Eu Sou a Lenda’ (2007) têm este concorrente forte. Mas, na verdade, a imensa maioria das produções está péssima. Como descrevi semana passada, atualmente há apelo comercial e pouca discussão. Aqueles marmanjos troncudos que adentram as salas dos cinemas despejando pipoca pelo chão querem é ver isto aí: sangue, gosmas, luta, barulho e fogo. Parecem se excitar com isso. Alguns ainda levam os movimentos para fora. Sentem-se os donos dos mouros e apenas nestes fatores os cinemas de hoje em dia influenciam.
Portanto, está em gestação atualmente um mundo de desavisados. É a procriação deles. E são da geração posterior aos que na década de 1980 acreditavam piamente existir nas telonas somente Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, e pensavam que Woody Allen e Steven Spielberg fossem só cantores ruins de country music. Os desavisados do século 21 sabem sim quem são Jet Li, Steven Seagal e Eddie Murphy e, em suas cabeças, os filmes giram em tornos destes profissionais. A eles, os irmãos Coen são a marca dum cereal e Penelope Cruz é a nova namorada do vocalista do Exaltasamba. Não pode ser assim.
Onde estão teóricos e analisas da 'Cahiers du Cinema'? Sem dúvida no Brasil existem críticos de categoria catedrática como Ismail Xavier, Ely Azeredo e Eduardo Escorel, sem deixar de lado Luiz Carlos Merten, Isabela Boscov, Christian Petterman, Rubens Ewald Filho e André Barcinski. Modestamente faço meu papel nas bandas, mas não chego nem perto do cadarço dos sapatos deles. Meu propósito é escrever sobre o que há de bom na sétima arte e com certeza não é este tipo de coisa como ‘Velozes e Furiosos 5’, ‘Padre’ e ‘Thor’. Eles apequenam o cinema, o tornam um instrumento que ele nunca foi, definitivamente.
Resta-me aguardar. Igualo meu pensamento ao de Antônio Abujamra, o de que tudo vai piorando. ‘Como Você Sabe’, o novo trabalho de Jack Nicholson, foi lançado recentemente e ouvi falar que o filme, dirigido pelo veterano James L. Brooks (parceiro do ator em brilhos como ‘Laços de Ternura’ – 1983 e ‘Melhor é Impossível’ – 1997), é uma digna porcaria. Se até Brooks e Nicholson estão errando, corremos perigo. Sério perigo. É o fim? Não sei. Também li sobre ‘Meia-Noite em Paris’ (2011), nova obra de W. Allen. Teceram elogios. Estamos salvos nesta parte, mas cuidado: os desavisados estão por aí, à solta. Ao se depararem com eles, afastem-se imediatamente, pois todos correm o risco de se contagiarem pelo ruim.
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