É tão triste... (publicado originalmente em 10/5/2011)
Como ‘Reencontrando a Felicidade’ não estreou por aqui, tive de fato de ver ‘Velozes e Furiosos 5: Operação Rio’, irrompido nas nossas praias sexta-feira passada. Claro, precisei de esforço igual ao das formigas levando as folhas nas casas para notar dois pontos tão transparentes do que as lentes dos óculos de Paulo Maluf: é um roteiro estilo ‘cozinhando o galo’, mais do mesmo, e os atores em cena valem tanto quanto o peso argentino vale no Brasil, ou seja, quase nada. Porém, antes de entrar na fileira do maculado script, reforço a tese de asco aplicada aos cinemas atuais: qual é o motivo desta fita ter tantas poltronas à disposição? Em Jacareí, por exemplo, duas salas das cinco ao todo recebem ‘Velozes e Furiosos’. Farejar sandices à parte é o que tenho de fazer porque a película é uma das piores que assisti nos últimos tempos.
E existe, contudo, a amarga coincidência: ‘Velozes ...’ é o contemporâneo de ‘Rio’ (2011), aquela animação cheia de mimos, literalmente brilhante em suas cores, confecção e ternura, dirigida pelo Carlos Saldanha, brasileiro. Aí o espectador entra em crise com o dilema: qual dos dois Rios de Janeiro vejo – o das drogas, corrupção, violência e desatino de ‘Velozes...’ ou candura, imaginação de criança e meiguice de ‘Rio’? Tudo bem que em Jacareí também foi dividida a exibição do desenho em duas outras locações, e a que sobra, a 3D, ficou com ‘Thor’ (2011), o que, diga-se, nem aos pés da obra de Saldanha chega. Eu fico com vergonha... Alijar o talento de ‘Rio’ para ‘contribuir’ com a qualidade zero do filme cujo diretor é Juntin Lin, comandante de ‘Velozes e Furiosos’ 3 e 4 (2006 e 2009) chega a ser bastante constrangedor.
E isto sem citar o já citado ‘Reencontrando a Felicidade’, a obra-prima produzida e protagonizada por Nicole Kidman. Em ‘Velozes e Furiosos 5: Operação Rio’, a principal atividade de Lin e da dupla de roteiristas, Chris Morgan e Gary Scott Thompson, é malhar a Cidade Maravilhosa como se fosse o último lugar onde Judas se esconderia. Vai além: não há atores ou atrizes tupiniquins e sim gente desfiando o tal ‘portunhol’ de um modo asqueroso. É tão triste... Quando estiveram em nosso solo, de maneira idêntica a Sylvester Stallone ao vir para rodar ‘Mercenários’ (2010), estraçalharam o Rio de tudo quanto foi jeito. O resultado foi acachapante. Levarão ao planeta uma imagem desgraçada e torpe dos cidadãos fluminenses. O lado bom é termos ‘Rio’, a animação, de consolo. Se não fosse por Saldanha, estaríamos muito fritos.
O dado mais esdrúxulo de tudo é ter de ver Vin Diesel em ação. O que é aquilo? Uma mistura de Stallone com Bruce Willis, e piorada? Pergunto-me se tudo está no caminho certo ou se as situações são tão drásticas assim por causa de falta de público nos cinemas. Qual será o tipo de pessoa que se dispõe a pagar ingresso (de preço nada módico, aliás) para ver o espetáculo da besta humana? Não quero nem ter a noção de quem seja. Alguém já disse que a barbárie tem o rosto humano, mas creio não ser para isto tudo. A intenção dos produtores (Diesel entre eles) salta à vista: arrecadar uma dinheirama do público de pouco cérebro com explosões de carros, tiros de som retumbante e capotamentos de tirar o fôlego. Mas eu estou respirando normalmente e respirei bem na sala onde tive o prazer de ver o filme. Ou melhor, o desprazer.
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