Não estamos no Carnaval (publicado originalmente em 26/4/2011)
'Serei a última pessoa que você verá na sua vida.' Esta frase balançou, como uma gangorra, vários espectadores no meio da década de 1990. Cito a gangorra porque ao mesmo tempo em que 'Pânico' (1996) arrecadou milhões de fãs pelo mundo, propôs a todos um velho novo jeito de fazer filmes de terror: o que faz rir, chamado por alguns de terrir. O roteiro do assassino que mata com a máscara branca parecida com uma caveira (?!) se tornou referência. Ao longa de 15 anos atrás seguiram outros dois, de 1997 e 2000, de igual estrondoso brilho cinematográfico, pelo menos àqueles que gostam, o que não é o meu caso. E após 11 anos a franquia acordou novamente. Retornou com Wes Craven, o diretor do trio anterior. Personagens como Sidney Prescott (Neve Campbell), Gale Weathers-Riley (Courtney Cox, ex-'Friends') e Dewey, com a alcunha agora de xerife (David Arquette) figuram em 'Pânico 4', lançado semana retrasada. O mote para atrair os aficionados é idêntico aos demais, porém com as pessoas dez anos mais velhas. É quando Sidney volta a Woodsboro como escritora de renome, lançando um livro sobre as matanças ocorridas anos antes.
Na confecção da fita, Campbell, Cox e Arquette somente acertaram a participação na última hora, assim como Craven. Não é difícil supor os motivos que levaram a esticar a decisão: a cinessérie 'Pânico' foi idealizada a ser trilogia. Como a repercussão foi a melhor imaginada, seria 'receoso' puxar os fios do novelo outra vez, com o medo de estragar tudo o que foi feito. Mas resistiram tempo semelhante à raposa vigiando o galinheiro. A lerdeza da conclusão do imbróglio fez com que a tal estreia fosse adiada em pelo menos quatro meses. E não chega a ser uma bagunça e nem resulta num fracasso retumbante. Para início de papo, logo nos primeiros minutos, Kevin Williamson, o roteirista, fez uma autocomédia dos filmes 1, 2 e 3. Satirizou os personagens, os fãs e a equipe técnica. Isto já lhe valeu um ponto. A partir daí, todo o seu desenrolar funciona ao bel prazer dos admiradores: sangue em demasia, trilhas sonoras que dão os sustos mais fáceis e, claro, o monstro aterrorizante com máscara branca. A missão do público é tentar desvendar quem é o serial killer da vez. E agora, pasmem, Williamson e Craven têm a solução assim meio diferente.
Sinceramente nunca gostei das películas de terrir. Lembrava mais da máscara branca no Carnaval. Como nós não estamos na festa do Momo, achei o lançamento fora de hora. A cada nova cena, eu tapava os olhos com medo de ter ataque cardíaco. Não sabemos se o assassino é um dos amigos de Jill, a nova mocinha (Emma Roberts, de 'Idas e Vindas do Amor', 2010), se é policial parceira de Dewey, Judy Hicks (Marley Shelton, de 'Tratamento de Choque', 2003) ou outrem. O caso é que o diretor e o roteirista tentam ensinar como se faz um filme de terror, passo a passo. Jogam pistas falsas, despistam em outros instantes e driblam como podem o público. Ao final, com um pouco de originalidade, Craven, Williamson, que não têm tanto o que fazer com os atores – pois é o sangue que interessa – alegram a todos salvando a mocinha de outrora: Sidney. Todavia, como escrevi acima, não estamos no Carnaval. E a festa rola mesmo assim.
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