As lições de ‘Rango’ (publicado originalmente em 29/3/2011)

Alguns filmes de tão pretensiosos de seu ponto de partida acabam virando um razoável arroz com feijão quando fica pronto. Outros, sem qualquer valor no cartaz de exibição, são galardoados com a fama, prestígio após o último crédito subir. O caso de ‘Rango’ (2011) se encaixa na primeira opção. Animação sob cuidados de Gore Verbinski, diretor de ‘O Chamado’ (2002) e da trilogia de ‘Piratas do Caribe’ (03, 06 e 07), o desenho quer ser a versão animal de ‘Três Homens em Conflito’ (1966) ou ‘Apocalipse Now’ (79) com a batalha sobre a água. No saldo total, ‘Rango’ consegue apenas bocado de um e réstia do outro.

Temos no centro da história o camaleão desejoso de se tornar a estrela de filmes. Ele vive em um aquário com peixe de plástico e manequim sem cabeça. Ali fantasia as mais aventurosas histórias. O carro do dono passa numa lombada e caixa d’água cai, espalhando tudo no meio da estrada, com o camaleão no meio, agora à própria sorte. Ele então chega a Poeira, cidade pacata detentora de várias lendas, governada pela tartaruga corrupta. O camaleão é levado pelas circunstâncias a alterar sua biografia e autodenomina-se Rango, valente combatente dos maus, defensor dos fracos, oprimidos, cujo medo inexiste no cotidiano.

Alçado ao cargo de xerife de Poeira, Rango precisa ajudar os moradores a conseguirem água para sobreviver. É o bem valioso na cidade e somente a tartaruga o detém, dando-o aos conterrâneos uma vez por ano. Mas toda água estocada no Banco poeirense é roubada e Rango tem de agir. Pode-se afirmar ser aí que o longa começa, pois até então se arrasta numa bagunça, onde as mais simpáticas personagens são as quatro corujas responsáveis pelos temas musicais da aventura. Porém, não entendo o motivo de sempre estes seres engraçados terem sotaque latino carregado, como o pinguim Ramon de ‘Happy Feet’ (2007).

‘Rango’ atinge o auge na cena de perseguição e captura dos ladrões do Banco. A ‘Cavalgada das Valquírias’, tema de ‘Apocalipse Now’, é entoada no vôo dos bichos em desavergonhada alusão ao filme. A música emociona, mesmo incluída em um desenho. Há outro trecho onde um sósia de Clint Eastwood reflete acerca das razões da vida, ao lado de Rango. Verbinski exagera nas inspirações e tem instantes nos quais eu pensei estar vendo só uma película que homenageia clássicos do ecrã. O longa perde pontos ao se colocar como aquele que homenageia, como se estivesse cumprindo uma tarefa que lhe foi atribuída.

Lições de moral a políticos também constam na lista da fita, especialmente pelo prefeito tartaruga e a cascavel, espécie de capanga do comandante de Poeira. Vemos intimidações, pavor e medo nos rostos dos animais. ‘Rango’, portanto, é mais um desenho direcionado ao público adulto, que as crianças devem assistir por diversão, sendo complicado o entendimento delas sobre os problemas expostos na telona. E a água é o mote para isto. Assunto atual, está lá no roteiro com aquelas mensagens subliminares: temos de cuidar dele porque é um bem finito; o mundo como vive hoje beira à seca daqui a pouquíssimo tempo etc.

Com orçamento de US$ 135 milhões, tem Johnny Depp como dublador de ‘Rango’ no original e é primeiro filme animado criado pela empresa Light & Magic, de George Lucas. Estreou no Brasil dia 9.

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Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 29/03/2011
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