Entrevista com André Barcinski (publicada originalmente em 8/3/2011)

A coluna Coisas de Cinema tem mais uma entrevista. Hoje conversamos com André Barcinski, crítico de cinema da Folha e diretor do programa ‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’. Ele fala de tudo: de cinema brasileiro, Oscar e até onde Zé do Caixão se encaixaria em Hollywood. A seguir, o bate-papo.

Coisas de Cinema – Hoje seria possível ter bilheteria uma animação no estilo 'Fantasia', com músicas clássicas na composição? Os jovens principalmente aceitariam isto em tempos de Justin Bibier?

André Barcinski – As pessoas hoje aceitam o que lhes são impingidas pela indústria cultural. Atingimos um nível de subserviência total. Se fizerem muita propaganda, o público aceita qualquer coisa.

CC – Em seu livro sobre Zé do Caixão, você relata o ostracismo do cineasta. Qual é o tamanho da culpa do Brasil por ele ter ficado mais famoso em outros países e não tanto aqui?

AB – Isso aconteceu, mas não acontece só no Brasil. Em todo o mundo há casos de artistas radicais que foram ignorados em seus países e só passaram a ser respeitados depois de obterem algum reconhecimento fora. Aconteceu até com os jazzistas americanos.

CC – Os longas de 2010 foram considerados por especialistas como os piores de toda história do cinema. O cinema deixou de ter 'estrelas' para ter roteiros protagonizados por efeitos especiais?

AB – Isso é um processo longo e que só vem piorando. A primeira era dos ‘blockbusters’ em que o orçamento de divulgação passou a superar o orçamento do filme em si começou no fim dos anos 1970 com ‘Guerra nas Estrelas’ (1977). De lá para cá, foi ladeira abaixo.

CC – O cinema brasileiro ganhou ou perdeu em qualidade em relação à reestruturação, em 94?

AB – Ganhou. Os filmes brasileiros não são mais ridículos tecnicamente, como eram. Lembro-me que era possível reconhecer uma fita nacional só pela sua ruindade do som, por exemplo. Hoje isso não é possível. Os filmes daqui melhoraram muito do ponto de vista técnico. Mas faltam histórias envolventes.

CC – O Oscar ou qualquer prêmio de cinema já foi em algum instante parâmetro do cinema?

AB – Nunca. Tanto que Charles Chaplin [ganhou somente um Oscar honorário em 1972], Stanley Kubrick e Orson Welles jamais ganharam, enquanto Mel Gibson (1995, por ‘Coração Valente’) e Kevin Costner (1990, por ‘Dança com Lobos’) já ganharam como melhor diretor.

CC – Se fosse escolher atores dos EUA a trabalharem num filme do Zé do Caixão, quem seriam?

AB – Viggo Mortensen e Naomi Watts. São fantásticos e adoram os filmes mais ‘alternativos’.

CC – Em qual filme de terror, hollywoodiano, Zé do Caixão se encaixaria como protagonista?

AB – Seria fantástico vê-lo enfrentando Jason [da cinessérie ‘Sexta-Feira 13’, da década de 1980] ou Freddy Krueger [da cinessérie ‘A Hora do Pesadelo’, da década de 1980], por exemplo.

CC – O terror é um gênero que as pessoas têm preconceito, aceitam, ou rejeitam totalmente?

AB – Não acho que o público rejeita, pelo contrário. Se isso rolasse, não haveria tantos filmes de terror por aí. Só acredito ser um gênero ainda muito pouco explorado aqui no Brasil, infelizmente.

Mais em www.recantodasletras.com.br/autores/rodrigoromero .

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/03/2011
Código do texto: T2844540
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.