SURTO DE MINEIRIDADE - O PADRE E A MOÇA
Neste início de quaresma premeditando outono, o pensamento voa aos recônditos de Minas Gerais; lá dentro, no Alto Jequitinhonha.
São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro; onde nem a perniciosa televisão conseguiu destruir suas tradições barrocas, originárias de outro rio: o Minho, em Portugal.
Naquela placidez onde se ouve o pio do carcará, também ecoam pelos vales e alterosas, os sons e a voz de Paula Fernandes entoando sua bela melodia, Seio de Minas.
Há 46 anos, São Gonçalo do Rio das Pedras acordou com a presença inusitada de pessoas, estranhas máquinas e cilindros emitindo luzes em pleno dia.
Um padre e uma linda moça,trocando sorrisos; intimidade incomum naquele lugar de recatos e endocultura.
Era a equipe do notável cineasta brasileiro Joaquim Pedro de Andrade iniciando as filmagens de "O Padre e a Moça" tendo como protagonistas, Paulo José e Helena Ignez.
Em São Gonçalo do Rio das Pedras, seus habitantes contam que um jovem padre então recentemente saído das jaulas clericais, apaixonou-se por uma bonita moça do lugar e seu pai não concordou com o romance.
O poeta Drummond versejou aquele amor proibido e o notável diretor Joaquim Pedro de Andrade eternizou a estória num clássico cinematográfico em marcante preto e branco. Mostrou também o cotidiano daquele lugar onde paradoxalmente os rios Jequitinhonha, Minho e das Pedras se encontram em tradições de lendas, fatos e poesias.
Vale a pena ver ou rever essa jóia do Cinema Brasileiro engastada nas montanhas de Minas.