‘O Vencedor’ (publicado originalmente em 15/2/2011)
Para dar sequência aos textos sobre filmes indicados à principal categoria do Oscar, hoje comento ‘O Vencedor’. A fita estreou na sexta-feira. Conta a história dos irmãos lutadores de boxe Micky e Dicky. Interpretados por Mark Wahlberg (também é produtor) e Christian Bale, respectivamente, os personagens têm ritmos alternados na trama. Wahlberg inicia por cima, mas pouco a pouco deixa seu espaço para que Bale possa roubar a cena. E o novo Batman faz isso com a maestria, sem desperdiçar o momento. Dicky era viciado em crack e estava à beira do colapso quando, em 1993, treinava Micky, este ainda um jovem aspirante boxeador. O irmão problemático só vive da fama de um dia ter lutado contra o mito Sugar Ray Leonard e o 'derrubado'. Por tabela, levou a pequena cidade natal de Lowell, ao mapa. No entanto, Dicky jogou no lixo a carreira ascendente pelas drogas. Já Micky busca a fama. Porém, ele é empresariado pela mãe Alice (Melissa Leo), uma mulher superprotetora que prefere o mais velho, preterindo o outro. Neste ínterim aparece Charlene (Amy Adams), a namorada de Micky, e que o incentiva a deixar a sua família.
Em ‘O Vencedor’ não há a chamada ‘atuação de gala’. Existem ali muitas performances boas. Por isto mesmo, o elenco quase todo se destaca, linearmente. Não por acaso três atores (Bale, Amy e Melissa) receberam indicações ao Oscar de coadjuvantes. Do trio, o melhor é o ator. Afirmo categoricamente que desde ‘Psicopata Americano’ (2000) ele não sobressaía tanto assim. Emagreceu para o papel e reflete ao público sentimentos de pena, raiva e ingenuidade em seu Dicky. O diretor David O. Russel manobrou de maneira serena as estrelas que possuía nas mãos. Extraiu de Bale talvez um potencial que o próprio ator desconhecia e, considero esta a maior proeza, fez de Amy uma boa atriz, lapidando-a além do que ela foi em ‘Dúvida’ (2008). Russel, aliás, leva às poltronas seu primeiro grande trabalho como diretor, sendo ‘O Vencedor’ o quinto na carreira. Parece ter esperado a vida toda para rodar esta obra. Com certeza, já está no rol das melhores produções feitas com boxe de pano de fundo, assim como ‘Touro Indomável’ (1980), ‘Menina de Ouro’ (04) e ‘Luta pela Esperança’ (05), sem citar a série ‘Rocky – Um Lutador’ (1976 a 06).
‘O Vencedor’ soma indicações ao Oscar nas categorias filme, diretor, edição, roteiro original e os três coadjuvantes. Chances reais, de fato, apenas para Bale. Porém, não se surpreendam caso o longa saia da festa com as estatuetas para edição, roteiro e a Melissa Leo, estupenda dando vida à mãe dos irmãos do boxe. É aposta, pois a atriz levou o Globo de Ouro por este papel. Não entendi o motivo de Amy estar na lista das indicadas. Apesar de Russel tê-la tornado atriz com 'A' maiúsculo, seu trabalho está opaco e, sim, é apagado quando Melissa entra em cena. O duelo das duas chega a ser covardia, principalmente naqueles instantes em que existe diálogo entre ambas. E Amy dá a impressão de ter ficado intimidada, pelo menos.
Cheio de referências a 'Rocky', 'O Vencedor' não está entre meus preferidos dentre os dez filmes indicados da Academia. Roteiro como de '127 Horas' (2010) considero melhor. É aguardar chegar dia 27.
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