'O Discurso do Rei' (publicado originalmente em 8/2/2011)
A temporada do Oscar começa em Coisas de Cinema com o filme 'O Discurso do Rei' (2010). Estreou em Jacareí sexta-feira, 4, com um único horário, mas a partir de 11 de fevereiro, haverá mais opções. Trata-se da obra que consagrará, muito provavelmente, o ator Colin Firth. E será um troféu merecido. Sua interpretação como Bertie, o rei George VI, está como deve ser: elegante, sóbria e sem exageros a aparar. É impecável. Dirigido por Tom Hopper, 'O Discurso do Rei' é médio, no entanto.
Como bem escreveu Isabela Boscov em 'Veja', a produção foi feita 'ao Oscar' simplesmente. Conta a história, entre 1936 e 40, de como a dinastia Windsor teve de lidar com a sucessão do trono de George V. Na primeira opção, Edward, o filho mais velho, abriu mão de sentar na cadeira. Além de ser beberrão, boêmio e farreador, se relacionava com Wallis, uma mulher divorciada duas vezes. Ao abdicar, Edward (Guy Pearce, em trabalho regular) dá lugar a Bertie (Firth). Inseguro, ingênuo e, sobretudo, dotado de uma gagueira nervosa, precisa assumir esta responsabilidade em pleno início da Segunda Guerra Mundial (1939-45). E é sobre o preparo do discurso para acalmar seu povo o enredo.
Com o auxílio de Lionel Logue, tratador da fala australiano, ele atinge a serenidade precisa a balbuciar sem pestanejar no estilo 'Gago Apaixonado' de Noel Rosa. Logue (Geoffrey Rush, um tanto irresistível, porém em alguns instantes exacerbado) se relaciona com o rei familiarmente. Chama-o pelo apelido, dá broncas como num aluno teimoso sem querer fazer lições de casa todo dia.
'O Discurso do Rei' recebeu 12 indicações da Academia. Dizem ser o franco favorito a levar os Oscars de filme, ator, roteiro original, figurino e direção de arte. É presente ainda em coadjuvantes para Rush e Helena Bonham-Carter, que dá vida à rainha-mãe, Elizabeth I, também de forma linear, aos trinta e poucos anos, e edição, trilha sonora e som. Não faz jus a pelo menos ao prêmio principal.
Vamos a Firth. Assim como Al Pacino esteve cego em 'Perfume de Mulher' (1992) e Daniel Day-Lewis ficou um tempo com paralisia cerebral em 'Meu Pé Esquerdo' (1990), Firth desenvolveu a tartamudez plenamente nesta obra do ano passado. A comparação é a mesma e, não à toa, igualmente a estes dois colegas de atuação que exibem a estatueta dourada na estante de casa, no próxima dia 27 Firth deve abocanhar a dele. Entretanto, se a fita conquistar o Oscar de melhor filme, a injustiça virá.
Assisti a sete filmes até este momento dos dez concorrentes: 'Minhas Mães e Meu Pai', 'Cisne Negro', 'O Vencedor', 'A Origem', 'Toy Story 3', 'Bravura Indômita'. Aprecio mais 'Cisne Negro' pelo nível macabro e simultaneamente ternuroso, somando a Natalie Portman, e 'A Origem' pelos efeitos e originalidade. Está claro que 'Toy Story 3' reina só a fazer figura e 'Bravura Indômita' a dar brilhos a faroestes, hoje em dia tão comuns quanto a Islândia chegar às semifinais de uma Copa do Mundo.
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