Ainda bem que acabou (publicado originalmente em 21/12/2010)
O ano de 2010 está perto do último gole. Dádivas para este término. Ufas serão dados, já que 2010 foi uma temporada péssima para o cinema. É melhor esquecê-lo rápido, para que inspirações e lembranças inexistam. Para fechar com chave de ouro – lata seria melhor – vi 'Aparecida: O Milagre', que estreou sexta-feira no país. Chinfrim, mal acabada e cheia de falhas, a fita, dirigida pela Tizuka Yamazaki é um repertório grande de bobagens, clichês e lugares-comuns. Conta a história de Marcos (Murilo Rosa, sofrível no papel e com um bigode ridículo), um empresário descrente de N. Senhora Aparecida depois da morte do pai dele de forma trágica quando Marcos tinha só 9 anos. Ele se torna um profissional de sucesso, mas com um certo vazio por dentro. Até que por uma outra fatalidade ele precisa verificar se sua fé está com a tinta fresca. Com menos de 90 minutos de história contada, este filme já entrou para o rol das piores realizações tupiniquins por muitos motivos. E vamos destrinchá-los aqui nesta última coluna de 2010, o ano em que os longas-metragens ficaram devendo. E demais.
O roteiro de 'Aparecida: O Milagre' é primário. Têm ali frases de jardim de infância. De tão pobre de qualidade, o script corrói o drama por inteiro. Além disto, fica-se com a nítida impressão de que a história foi acabada às pressas. Mal coordenados, os atores parecem estar perdidos nos sets. As imagens são desfocadas em determinados instantes e o som, em geral, deixa a desejar. O filme é torto e mistura aspectos da religião católica. Um exemplo crasso do erro de direção de arte, por exemplo, é a aparência do santuário de Aparecida nos anos 1970. A produção nem sequer se preocupou com as fachadas da super igreja. Ela está lá, moderna, impávida e imaculada. Mas há 35 ou 40 anos não era assim. Outra fraqueza do filme reside na falta de canções específicas. Não se preocuparam em poder tomar músicas conhecidíssimas do público em geral e pô-las no longa. Escrevi antes que 'Aparecida: O Milagre' tem cerca de 90 minutos de duração. Na verdade, por ser pesado de carregar, enfadonho e ruim mesmo, parece consumir três ou quatro horas de suspiros, caras de 'eu já sabia' e bastante raiva.
O elenco, coitado, deve ser apontado como menos culpado. Rodrigo Veronese comprometeu com sotaque folgado. Maria Fernanda Cândido deve estar cavando buracos para se esconder de todos os espectadores. Está irreconhecível e teve o talento embaçado com este filme. Leona Cavali apenas parece estar cumprindo uma obrigação. E Jonatas Faro, creio, filmou pensando em Danielle Winits. Sobre Murilo Rosa já teci comentários. 'Aparecida: O Milagre' foi rodado em São José dos Campos e Aparecida com roteiro redigido por Carlos Gregório, Marco Schiavon, Paulo Halm e Pedro Antônio. Quatro pessoas não conseguiram produzir um inteiro. Fujam do filme, mesmo se todos vocês forem católicos fervorosos, carismáticos, fanáticos, dedicados e estudados. Não vale a pena nem a olhada.
Pelo menos 2010 está no fim. Rezemos para que 2011 seja um pouco melhor. Merecemos.