Silvio Santos, 80 (texto-bônus ao Recanto das Letras)

Este dia 12 de dezembro é a ser comemorado. Não apenas relegando-se às senhoras, mas ainda aos meninos e as meninas, e aos senhores, porque não?! O octogésimo aniversário de Silvio Santos, coincidentemente num domingo, é mais uma página escrita pela história da televisão, cultura, contracultura e telespectadores brasileiros. Com seu nome original de Senor Abravanel, o animador conseguiu, em quase seis décadas de carreira, fincar o marco esplêndido. Pergunte a qualquer um: o que vem ao seu pensamento quando falamos de domingo? Arrisco-me a afirmar ser Silvio Santos a primeira resposta a ser lembrada e somente depois a reunião com a família e em terceiro lugar, longe, a macarronada da vovó. Esta hipotética estatística, creio ser verdade, é mérito exclusivo deste carioca de pais estrangeiros cujo tino comercial foi estopim à carreira empresarial e televisiva que o consagrou já nos seus trinta e poucos anos. Manter o vigor, não o físico –que também é de dar inveja – mas o profissional com o talento em relevo, é muito difícil em dias de ex-BBB’s e outras tralhas maculadas por aí.

Não nasci fã de Silvio Santos. Tampouco fiquei com o tempo. Aprendi a ser. Sou um dos admiradores primeiro do homem exemplar, depois os trejeitos. Ou primeiro o ser humano e a seguir as atrações do domingo. Criança, o ‘Domingo no Parque’ nada significou para mim. Nem as lágrimas da ‘Porta da Esperança’ e o ‘arrastado’ ‘Show de Calouros’ (quando se é pequeno, duas horas demoram o tempo da Guerra dos Cem Anos). O programa que me pegou foi o ‘Troféu Imprensa’. A gala, cerimônia e a pompa da votação dos jurados eram, e são até hoje, lindo. Porém, com nove ou dez anos via o ‘Troféu Imprensa’ não apenas pelo Silvio, mas porque os artistas das outras estações iam ao SBT e apareciam no vídeo. Aquilo era curioso. Achava jocoso ver Chico Anysio, Faustão e Xuxa no SBT. Evidentemente, a postura de Silvio compunha o prato da macaquice de auditório, mas, sobretudo, eram as estrelas da TV Globo no SBT. O animador vinha, aqui, em segundo plano.

Quando escrevi que aprendi a ser seu fã, isto quer dizer que o estudei. Comecei a querer saber quem era aquele homem atrás do microfone esquisito, o pai de família que uma vez a cada mil anos dava entrevistas e que não comparecia a festas. Por que a pessoa se esconde se almeja saber tudo sobre ela. Quem avisa o jornalista que vai a eventos é o desprezado. Na época – e me refiro a 15 ou 16 anos atrás – a Internet inexistia e a única fonte de informação eram as revistas e jornais.

Qual a razão de Silvio Santos encantar a plateia e o público de casa? Teses foram feitas. A gargalhada? Talvez. O comportamento igual com as ‘colegas de trabalho’? Pode ser. A humildade tão propagada por seus funcionários? É uma opção. O enorme carisma, imitado, jamais igualado? Boa resposta. Definir carisma é complicado. Sabe-se que a pessoa tem logo ao olhar para ela. É instantâneo assim. Com Silvio Santos isto ocorre. Mesmo quem o detesta, dando predicados como vulgar e aproveitador, ao vê-lo no televisor fica hipnotizado por dois ou três minutos. Teste. Eu testei com meus pais e dá o resultado. A pessoa ri devido àquele ser de terno e gravata com a cabeleira pintada de caju rir diante dela. Bem simples. São as piadas sem graça e os aviõezinhos jogados a esmo os protagonistas? Claro que não. Tenho outra aposta: se por acaso ele ficasse parado no programa dele, sem nada fazer, as pessoas o veriam também. Quiçá os gestos com as mãos e a dança sem uniformidade façam parte deste caldeirão, entretanto não tenho a certeza de que o telespectador necessite disto. Alguém já disse da voz: ‘De perto é potência intimidadora, mas as colegas de trabalho não ligam porque ele é colega delas igualmente.’

A educação de Silvio no palco é assustadora. Seja ao lidar com quem quer que seja. Pobre, o rico, o presidente, o varredor de chão, todos são tratados por ele como um amigo. A pessoa se sente íntima sem ser. Sente-se confidente dele, porém Silvio não lhe fala outra coisa a não ser ‘compre a Telesena’ e o receptor acha ser isto um segredo valiosíssimo. Esta parte de cumplicidade tem salvado o dono do SBT neste tempo no qual a sua emissora está na terceira colocação na média da audiência. São comuns as reflexões de que ele ainda não se aposentou ‘porque ama o que faz’. Verdade. Silvio chegou a dizer um dia ser exclusivamente ‘um camelô de terno e gravata que vende seus produtos na televisão’. Está exato. E mesmo com a propaganda, tão ridicularizada atualmente, principalmente após a morte do seu fiel escudeiro Lombardi, Silvio Santos continua a parceria com o ‘auditório mais feminino do Brasil’. E elas com ele. A razão ou segredo podem estar neste texto.

Por fim, é difícil acertar a cereja com uma só flechada. As suposições são muitas. Quem sabe ele próprio seja o mais necessitado nisto tudo, como os viciados em drogas, no bom sentido. O público dá sua resposta, idolatrando-o, sempre.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/12/2010
Código do texto: T2664381
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