Ressuscitar, laurear (publicado originalmente em 23/11/2010)
Quando um time de futebol tem muitos jogadores famosos no elenco, os chamados ‘medalhões’, o cheiro sempre é de desconfiança. ‘Equipe com bastante estrela junta nunca dá certo’, costuma-se falar. E assim foi, por exemplo, com o centenário Flamengo de 1995. O ataque contava com Romário, Bebeto e Sávio, carimbados de seleção brasileira. Naufragou como um clube de remo furado. Os galácticos do Real Madri dos anos 2000, com Roberto Carlos, Ronaldo Fenômeno, Zidane, Raúl e companhia prometiam os placares acima dos cinco gols por jogo. Triunfou pouco, quase nada. E no cinema isto também acontece?
Vamos analisar ‘Red: Aposentados e Perigosos’ (2010). Encabeçado por Bruce Willis, o longa fala aos que ficam em casa. O ator é Frank, ex-agente da CIA desocupado há algum tempo. De tão ocioso, ele liga quase que diariamente ao serviço de previdência dos EUA para conversar com Sarah (Mary-Louise Parker), sua agente particular. Argumenta não ter recebido os cheques da aposentadoria só a puxar papo.
Porém, a sua agora insignificante vida acabará logo. A própria CIA está atrás dele, por saber demais e Frank corre risco de morrer em emboscada. Assustado, procura ajuda nos seus ex-parceiros da entidade que também estão inativos: a atiradora Victoria (Helen Mirren), o sagaz Joe (Morgan Freeman) e Marvin (John Malcovich), o ex-combatente de guerra que tem mania de perseguição. Todos acima dos 50 anos. O quarteto conta com ajuda do russo charmoso, tranquilo Ivan (Brian Cox), ex-amante de Victoria.
A perseguição aos de meia idade é coordenada por William Cooper (Karl Urban), jovem ambicioso agente da CIA. Neste emaranhado de tiros, socos e sangue, descobrem-se crimes de guerra cometidos na Guatemala em 1981. Uma certa lista com alvos foi divulgada e são os nomes dela que são assassinados.
‘Red’ é a adaptação de histórias em quadrinhos criadas por Warren Ellis e Cully Hamner. O gibi só teve três números publicados e não caiu no esquecimento de seus fãs. O termo em inglês ‘Red’ não quer dizer ‘vermelho’, mas sim é sigla para Aposentados Altamente Perigosos. Na telona, a figura central tem o nome Frank Moses. Nas HQs, é Paul. Com a maioria de suas cenas filmada no Canadá, o diretor Robert Schwentke (o mesmo de ‘Plano de Voo’, com Judie Foster) conseguiu extrair boa ação que entretém bem o público. Evidentemente, as sequências de fugas alucinadas, corridas a pé, não são tão usadas devido às idades dos atores. Nem poderia ser diferente. Schwentke força a mão nas habilidades de cada um: a luta de Willis, a elegância de Helen, o humor de Freeman e a esquisitice de Malcovich. O resultado: diversão.
A fita tem pitadas de saudade e homenagens. Richard Dreyfuss, ganhador do Oscar de 1977 por ‘A Garota do Adeus’ (melhor ator) integra ‘Red’ em simpática personagem, Alexander Dunning, misterioso senhor que tem coisas a dizer acerca da Guatemala. O outro é Ernest Borgnine. Aos 93 anos, o ganhador do Oscar de melhor ator no longínquo ano de 1955 por ‘Marty’ surge numa ponta do filme como Henry, o dono do arquivo da CIA. Assim, ‘Red’ é cheio de bondades. Ao mesmo tempo em que “ressuscita” uns, laureia outros. Assista para reviver estrelas, pois o script é o que menos interessa nos minutos de duração.