Maurício, 75 (publicado originalmente em 26/10/2010)
O Brasil comemora em 27 de outubro de 2010 uma data pra lá de grandiosa e bem especial. O desenhista Maurício de Sousa completa 75 anos de vida. Três quartos de século nos quais ele deu ao país, sobretudo às crianças, a chance de acompanhar histórias de personagens que há muito estão no rol das eternas figuras da animação tupiniquim. As tantas Mônicas e Magalis espalhadas por esta pátria amada devem a Maurício suas estripulias que talvez seus pais pudessem ter imaginado que fariam quando escolheram os nomes inspirados nos quadrinhos. Também provavelmente existam por aí diversos bairros Limoeiro onde meninos que falam errado ou não gostam de tomar banho bolam planos infalíveis.
Maurício é de Santa Isabel, cidade vizinha a Jacareí. Ainda garoto, radicou-se com os pais Antônio e Petronilha em Mogi das Cruzes. Lá começou a trabalhar. Adolescente, sua veia artística anunciava que viria um domador do lápis como poucos. Tentou de cara arranjar emprego como desenhista em Mogi. Sua missão era rabiscar cartazes a rádios e jornais de periódicos da cidade. Aquilo era insuficiente a ele. Após um breve período, ofereceu o serviço a outros departamentos, sem sucesso. Partiu à capital, São Paulo. E a peregrinação seguia. Como a ocupação de desenhista não estava vaga, aceitou ser repórter policial para a Folha da Manhã, na década de 1950. Mesmo lidando com notícias sobre mortes e roubos, Maurício deu um jeito: ilustrava as matérias. Desta maneira agradou leitores, o jornal e, assim, ele próprio. Afagava-se.
Ao contrário do que alguns podem pensar, não foi a Mônica a primeira personagem criada. O cão Bidu marcou a publicação número um de Maurício na Folha. Ao lado do dono, o menino Franjinha, eram as aventuras do bichinho que os leitores viram em 18 de julho de 1959. A baixinha, gorducha e dentuça só apareceu quatro anos depois, em 1963. A partir daí, tudo o que se escrever será nada em comparação aos triunfos obtidos pelo desenhista e empresário. Os gibis são publicados em vários países, traduzidos a não sei quantos idiomas e multiplicados por milhões (talvez bilhões) de leitores, sejam eles mirins ou não.
Tive a oportunidade de visitar o Estúdio Maurício de Sousa em 2002, em meu último ano do curso de Jornalismo, com um grupo de colegas. Passamos o dia escoltando o trabalho das pessoas que passam ao papel ideias que alegram multidões. Conversamos com funcionários. Posteriormente, convidamos um dos roteiristas para dar entrevista na faculdade. Chegamos a encontrar o homem que inspirou Maurício a criar o Cebolinha. Não conseguimos contato com Maurício de Sousa, à época em viagem fora do Brasil.
E as peripécias da Turma da Mônica invadiram outros meios de comunicação, além do impresso. A televisão, cinema e videogame, embora com menos densidade, também têm a presença das personagens.
Fui assinante das revistinhas da Turma dos meus oito aos onze anos. Eu me lembro que aguardava bastante ansioso a chegada dos gibis, principalmente os do Cebolinha. Meu desejo era de que ganhasse a posse da rua com um dos planos infalíveis, mas o Sansão sempre terminava entrando em ação. Maurício e certa forma foi responsável por infinitas partes boas da minha infância. Tenho saudade. Parabéns a ele.