Pedra na cruz (texto publicado originalmente em 28/9/2010)
Cheio de influências, 'O Último Exorcismo', estreado sexta (24) no país, é também cheio de falhas. 'A Bruxa de Blair' (1999), 'O Exorcista' (1973) e 'O Bebê de Rosemay' (1968) são influências que saltam aos olhos. É impossível assistir e deixar de perceber as três histórias na trama.
Repleta da já muito usada jogada de câmeras, estilo 'Aqui Agora', em movimento, corrida, o filme se apresenta como um arranjado documentário sobre expulsar demônios do corpo. Mas se dá mal porque a história é pretensiosa e bastante confusa em determinados instantes. Fala acerca de um pastor supostamente evangélico (?) disposto a por para fora a, segundo ele, 'farsa total' que são os rituais de exorcismo... Assim, aceita a parceria com uma dupla de jornalistas à tarefa. Com a câmera na mão e ideia na cabeça, partem rumo a um drama qualquer.
Daniel Stamm, o diretor, se baseou em folhetos macabros para contar a aventura de terror. Simples e didático demais, se complica em partes bem bobas. Reparem, por exemplo, na metade da fita. Com 87 minutos de duração, em quase 40 acontece nada. Absolutamente nada. Nós só vemos o reverendo Cotton Marcus (o fraco Patrick Fabian, com ar de galã dos anos 1970) discursando sobre seus afazeres. O script escorrega. Parece se importar mais com o terço decisivo da trama e não ligar para o resto da carretilha. E não é desta forma que se faz cinema. O público espera além de mera “enrolação”. Stamm finge não saber.
O elenco de 'O Último Exorcismo' é todo voltado a atriz e ginasta Ashley Bell. Oriunda da TV, ela é a garota com o diabo no corpo, Nell. É carismática e tem boa presença na tela. Porém, seu papel lhe cai equivocadamente. Tenta ser um xérox de Linda Blair, a Regan de 'O Exorcista'. Sai-se mal, pois devia ter seguido seu próprio instinto. Orientada ou não por Stamm, Bell berra, gesticula e tem o olhar semelhante ao de Blair.
A única diferença é a, repito, câmera. Como está sendo rodado um documentário, o susto é o maior devido a direção da lente das poderosas. Há uma cena na qual Nell, possuída, pega a câmera e leva-a ao passeio, até os espectadores verem-na trucidar o coitado do gatinho, a pauladas. Cheira a asco, não?
Nos pontos positivos, 'O Último Exorcismo' tem o ator Louis Herthum. Como o senhor Sweetzer, pai de Nell, ele encarna com altivez aquele tipo fanático religioso. Tranca a filha em casa, não confia em todos ao redor e tem personalidade dúbia. Será mesmo supercatólico ou esconde segredos por trás? Se há podridão no reino da Dinamarca, porque não no Estado de Lousiana, onde se passa o drama? L. Herthum tem o domínio das sequências e abocanha os outros atores nas cenas. A limpeza ou sujeira está neste pai?
Com Ashley fazendo todos os contorcionismos de sua personagem, o longa-metragem amealhou sucessos nos primeiros dias de exibição. Com só US$ 1,8 milhão de orçamento, arrecadou dez vezes mais nos EUA no primeiro fim de semana de amostragem por lá. O mérito é de Stamm, que prometeu levar às salas cenas de terror jamais vistas na história do cinema. Ou ele se enganou ou enganou a nós. O que está nas telonas é apenas e tão somente o que suamos de tão cansados que ficamos ao ver a fitas de terror 'B', de segunda classe. Roger Corman jamais reclamaria. Mas creio que ele tinha fineza ao lidar com o tema.