Em busca de si mesma
O filme Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton, é mais uma amostra do gosto pelo extravagante e bizarro que caracteriza sua obra. Com ótimos efeitos especiais e bom elenco, no qual figuram os nomes de Johnny Depp (irreconhecível como o Chapeleiro), Helena Boham Carter e Anne Hathaway, além de um roteiro movimentado, o filme não nos deixa indiferentes, prendendo nossa atenção do início ao fim.
Na história, Alice é uma jovem adulta, que tem vagas lembranças das aventuras que viveu no País das Maravilhas em sua infância. Recebe a moça proposta de casamento de um rapaz desagradável e, dividida, confusa, sem saber o que realmente deseja, pressionada pelas outras pessoas, que querem que ela case, pede um tempo para pensar, afastando-se. Ao se afastar, avista o mesmo coelho branco, persegue-o, cai no buraco e volta ao lugar onde, anos atrás, vivera sua primeira e estranha experiência.
Julgando estar num sonho, vai se deparando com a Lagarta Azul, o Gato Risonho, a Lebre, o Chapeleiro e ouve que eles a esperavam, porque ela tem uma missão: matar uma criatura monstruosa, ajudar a destronar a louca Rainha Vermelha e fazer com que a Rainha Branca assuma o trono.
Nesse mundo caótico, sombrio e perigoso, Alice tem que lutar por sua vida, fazer escolhas e tomar decisões. Sua jornada por lugar tão bizarro acaba se tornando uma jornada em busca de si mesma, de sua identidade. Ao ver que pode decidir, com suas atitudes, o destino do lugar, percebe que tem o mesmo poder em relação à sua vida. Isso a faz parar de relutar, tomar uma posição e dizer :"eu sou". Descobrindo quem é, ela luta pelo direito de ser o que é, de se assumir como é, sem máscaras ou disfarces. Mergulhar no País das Maravilhas é mergulhar em si mesma, buscar sua essência perdida e se reencontrar.
O Chapeleiro, impagavelmente interpretado por Johnny Depp, representa a liberdade, a coragem de ser autêntico. Ser louco é ser livre, verdadeiro. Em um momento do filme, Alice lhe diz que seu pai dizia que as pessoas loucas eram as mais legais. Ou seja, o Chapeleiro é legal porque representa a ousadia, que não se importa com as convenções sociais e se mostra sem hipocrisias.
A Rainha Vermelha é a opressão, a tirania. Sempre mandando cortar cabeças, dá-nos uma imagem perfeita de um poder que não é ligítimo e se sustenta no autoritarismo, aterrorizando quem está sob ele. A cor vermelha está usualmente associada ao sangue, à violência. Assim, a Rainha Vermelha representa aqueles que são temidos e se fazem obedecer pelo medo, derramamento de sangue e opressão. Prepotente e cruel, ela vive para satisfazer os seus caprichos e não tem escrúpulos em perseguir os que a ela se opõem, tornando seus súditos infelizes.
Bem diferente é a Rainha Branca, que é a paz e a justiça. Ela representa um poder legítimo, a verdadeira autoridade, porque respeita as liberdades de cada um e não tenta se impor por atitudes autoritárias, mas por decisões justas e sensatas. Não busca seu poder para seu prazer, mas para governar com sabedoria.
No meio dessa aventura, Alice amadurece, aprende a importância de saber tomar as decisões corretas, lutar pelo direito de ser um indivíduo único e diferenciado dos demais, entendendo que agir cedendo às pressões alheias é desistir de si mesma, daquilo que a torna quem ela é. No fim, a mensagem do filme é que devemos, em primeiro lugar, saber quem somos e, depois, assumirmo-nos, pois só isso fará de nós seres completos e livres.