Não regrediu. Piorou (publicado originalmente em 21/9/2010)

É de outras brisas a minha contínua indignação com o tal cinema praticado atualmente nos Estados Unidos. Escritos foram publicados neste espaço acerca do tema. Pois bem. Com o acaso do tempo, o meu desafeto amornou e assim ficou até poucos dias atrás, quando eu vi ‘Karate Kid’, lançado poucas semanas atrás por aqui e até agora em cartaz. A aragem soprou novamente... E haja Emily Bronte para tantos uivos destes ventos. Estou triste, sinceramente, pois amo cinema e não me moldo à situação. Há saídas? Quais as portas são viáveis a responder ao público? Os espectadores gostam mesmo da “brilhante excrecência”?

Lamento afirmar, mas eu tenho a impressão de que, cultural e moralmente, o cinema estadunidense está é morto. Falta enterrá-lo, com todas as honras. Os pretextos são infinitos, toscos e deveras polêmicos.

O que discorrer sobre 'Karate Kid? Novamente refilmaram uma boa história para estragá-la. Outro besteirol do tio Sam? Se os adjetivos saltam é preciso bordá-los a prazo, com módicas parcelas. O garoto Jaden Smith (filho de Will–aliás, a fita saiu porque o pai bancou o projeto) tem 12 anos e jamais podemos esquecer de Ralph Macchio, o Daniel San da película de 1984, à época com 22 anos. Jaden, bom ator, mas com muito a crescer, tanto físico quanto talentosamente depois de 'Em Busca da Felicidade' (2006), é Dre Parker. Com a mãe, Sherry (Taraji P. Henson), muda-se para a China. Conhece Han (Jackie Chan), o zelador especialista em Kung-Fu. O menino é agredido várias vezes e o resto você sabe. Mas a violência ao petiz é exacerbada. E lá vem a comparação com o original, com Macchio quase adulto. E claro, duelar Chan com Pat Morita é covardia. Os realizadores mudaram o país (EUA e China), esporte (caratê e kung-fu) e elenco (o de 26 anos atrás tem qualidade superior). A música também é inferior. A nota positiva é a gracinha Wen Wen Han, que interpreta Mei Ying, a namoradinha de Dre. Sua meiguice conquista a todos.

A questão é: as pessoas que pagam ingresso têm o direito de ver qualidade na telona? Se sim, estão acostumadas com a tragédia destes dias porque apenas se apresenta isto? Se por acaso fossem mostrados roteiros melhores elaborados, o público desapareceria, desacostumado? Qual escolher? Tem alternativas?

Efeitos especiais são protagonistas. A diferença única é que não são abonados. Labutam de graça e nem reclamam. Os cenários são feitos por computador, e é a máquina que age, os dedos, idem. Os atores ‘humanos’ interpretam pouco. Onde estão os novos Cary Grant, Greta Garbo, James Stewart, Betty Davis, Audrey Hepburn – na geração seguinte: Meryl Streep, Jack Nicholson, Clint Eastwood, Marlon Brando, Al Pacino? Não temos. Orçamentos de milhões, a bilheteria de bilhões, e os bolsos cheios de produtores, diretores, atores etc... Atributos nulos. Creio o problema maior, com maiúsculas, recair nos roteiristas. A greve recente que quase deixou o Oscar sem calças dá importância do grupo. Boas histórias são raras, de Clint Eastwood, do time dos encanecidos. Os irmãos Coen? Talvez sim. O cinema dos EUA não regrediu, pois se fizesse, era a luz dos anos 40, 50, 60. Piorou. Cadê a elegância, mocinhos e vilões?

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 21/09/2010
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