Quanto vale ou é por quilo?
Filme: Quanto vale ou é por quilo?
Diretor: Sérgio Bianchi
Duração: 108 min
Ano: 2005
O filme “Quanto vale ou é por quilo?” faz uma reflexão analógica entre o período colonial no Brasil até o fim do império (1530-1888), no qual a escravidão era adotada como forma de relação social de produção e este fato é comparado com a contemporaneidade, em que o homem continua sendo reificado, entretanto, de maneira camuflada e eufêmica.
Sérgio Bianchi faz a junção de várias histórias em certas situações dentro de contextos sociais diferentes que procura mostrar de vários ângulos as discrepâncias e injustiças sociais em benefício da minoria dominante.
No período escravocrata, os negros eram vendidos como objetos. Os senhores os avaliavam pelos dentes, observavam se seus dentes eram fortes e brancos, dessa forma, viam se o escravo iria sobreviver e aguentar o pesado trabalho forçado e as possíveis torturas.
Para a opressão dos escravos considerados criminosos, havia duas justiças paralelas: a oficial, representada pela máquina judiciária, baseada no livro das Ordenações Filipinias, que previa duras penas como morte e degredo e a privada, praticada pelos senhores.
Há uma cena no início do filme que mostra os instrumentos de punição usados pelos senhores para castigar os escravos que forem desobedientes: mordaça, tronco, entre outros. E neste momento é exposta somente a visão dos senhores de maneira unilateral e persuasiva, de forma a encobrir a realidade de agressão ao ser humano.
Esses fatos são expostos para remeter ao período contemporâneo, mais precisamente para associá-lo a indústria cultural, que transforma o homem em produto e, muitas vezes, tira vantagens da pobreza e ignorância dos cidadãos de baixa renda para obter lucros financeiros.
A película expõe essa situação de ganância por meio de uma ONG que realiza propagandas sensacionalistas que serão transmitidas na TV. Estas propagandas maquilam a realidade social. Nelas os produtores fazem mudanças na cor da pele de crianças para parecerem negras, lânguidas e sofridas. Mudam suas roupas, escrevem as falas das crianças, tudo para desfrutar de uma imagem solidária, benéfica e parecerem confiáveis aos olhos do telespectador. De maneira a continuar recebendo doações e usufruir arbitrariamente dessa situação de “solidariedade”, como forma de reduzir as despesas da empresa, por não necessitar pagar os direitos trabalhistas e tendo uma imagem positiva, crescer e embolsar mais dinheiro a troco das mazelas humanas.
Essa problemática é interligada ao período escravista, em que os senhores passavam essa imagem solidária ao conceder a carta de alforria aos escravos depois de muita luta e esforço destes. Em certo sentido, os escravos literalmente compravam-se ou eram doados para si mesmos. Ainda assim, os senhores ficavam com uma imagem positiva, pois eles abriam mão do ser que era considerado patrimônio.
Esses acontecimentos estão entrelaçados pelo elo do egoísmo, ambição e oportunismo, intrínsecos a raça humana. Que estão arraigados desde os primórdios nos homens e mostra que vivemos numa guerra primitiva onde uns querem estar acima dos outros, isto é, sempre houve exploradores e explorados. Desta forma, a película faz uma crítica não só a luta de classes, mas a exploração, iniquidade e aos contrastes sociais presentes em cada classe. Além de reforçar que apesar da maquilagem, ainda existe preconceito racial, social, cultural e desprezo ao ser humano no século XXI.