A MATERNIDADE E A ESCOLHA EM DOIS FILMES
I – OBJETIVO:
Avaliar a situação de duas personagens “mães”, colocada em situação extrema de decisão em relação aos seus filhos.
II – FILMES AVALIADOS:
II.1. A ESCOLHA DE SOFIA
- Título Original: Sophie´s Choice
- Direção: Alan J. Pakula
- Roteiro: Alan J. Pakula
- Atores:
- Merryl Streep (Sofia)
- Peter MacNicol (Stingo)
- Kevin Kline (Nathan)
- Duração: 153 min
- Ano: 1982
II.2. O ANJO MALVADO
- Título Original: The Good Son
- Direção: Joseph Ruben
- Roteiro: Ian McEwan
- Atores:
- Macaulay Culkin (Henry)
- Elijah Wood (Mark)
- Wendy Crewson (Susan)
- Duração: 87 min
- Ano: 1993
III – A ESCOLHA DE SOFIA
O filme é um drama, ambientado na Nova York do Pós Guerra. Conta a história de três amigos: Sofia, seu namorado Nathan e Stingo, um pretendente a escritor, recém chegado do Sul. Sofia é uma Polonesa, sobrevivente do Holocausto. Ela é uma pessoa que apesar do exterior alegre, é depressiva e traz consigo um grande segredo. Somente no final do filme, ficamos cientes da terrível decisão que ela teve que tomar, ao ser levada, juntamente com seus dois filhos, uma menina e um menino para o campo de concentração de Auschwitz. O diálogo abaixo, entre ela e um oficial nazista, ilustra a situação:
(2:14:00) Diálogo em alemão, Sofia está com a filha menor no colo e com o filho abraçado, na fila onde os soldados nazistas decidirão o destino de cada prisioneiro. Um dos oficiais chega perto dela e faz alguns questionamentos:
Sofia: Eu sou católica. Sou uma católica devota.
Oficial: Não é comunista?
Sofia: (sinal de não com a cabeça)
Oficial: É religiosa?
S: Sim senhor. Eu creio em Cristo.
O: Então, crê em Cristo... o redentor?
S: Sim!
O: E ele não disse “Que sofram as criancinhas para que possam vir a Mim?”
S: (fica em silêncio)
O: Poderá ficar com um de seus filhos.
S: Perdão?
O: Poderá ficar só com um de seus filhos. Um terá de morrer.
S: Diz que terei que escolher?
O: É polaca, não uma judia. Isso lhe dá um certo privilégio, o da escolha.
S: Eu não posso escolher! Eu não posso escolher!
O: Quieta.
S: Eu não posso escolher!
O: Escolha! Ou mandarei ambos para lá!
S: Não.
O: Faça a escolha!
S: Não me faça escolher! Não posso!
O: Mandarei ambos para lá.
S: Não! (apavorada)
O: Cale-se! Basta! Eu disse para se calar. Faça a escolha.
S: Não me faça escolher! Eu não posso!
O: Mandarei ambos para lá.
S: Não posso escolher!
O: (virando-se para outro soldado subalterno) Leve as duas crianças embora! Mexa-se!
(os soldados vêm pegar as duas crianças)
S: Leve minha filhinha! Leve meu bebê! Leve minha garotinha!
(o soldado leva a menina, que chora apavorada)
O roteirista e o diretor não nos apresentam cenas de Sofia com seus filhos, talvez para não criar uma empatia com nenhum dos dois e deixar menos doloroso para o espectador presenciar o sacrifício de um dos filhos. Também não se justifica a escolha. Pressionada pelo momento, ela teve que optar e viver com essa opção.
IV – O ANJO MALVADO
O filme é um suspense. Conta a história de dois primos, Henry e Mark. Mark passa a morar com seus tios, após a morte de seus pais. Os dois meninos têm quase a mesma idade e logo tornam-se amigos e companheiros de aventuras e travessuras. Mas Mark logo percebe que Henry é uma criança extremamente maldosa e passa a querer se afastar dele, tentando contar a verdade a seus tios. Obviamente que a mãe não irá acreditar no sobrinho, afinal trata-se de seu filho.
No final do filme, em uma cena onde os três acabam se envolvendo em uma briga, próximos a um penhasco, Henry tenta matar sua mãe. Quando os dois garotos caem no precipício são agarrados por Susan, que tem que decidir qual dos dois irá salvar: seu filho ou seu sobrinho. Ciente da maldade de Henry, após alguma hesitação, ela decide soltar seu filho e salvar Mark, seu sobrinho.
Trata-se de uma variação da “escolha de Sofia”. Como uma mãe pode se decidir em uma situação extrema, entre a vida de seu filho natural ou de seu filho adotivo? Obviamente não há nesse filme toda a carga emocional que encontramos no filme anterior, pois trata-se de um filme de suspense.
E também ao contrário do primeiro filme, temos aqui toda uma construção dos personagens, o garoto bom x o garoto mau, que facilita a identificação do público, o que faz com que doa menos a escolha da mãe – até torcemos para que ela solte seu filho!
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ambas as mães (Sofia e Susan) não podem ser julgadas por sua atitude e escolha. Para o espectador é fácil se condoer e sentir pena de Sofia, por ter sobrevivido à sua decisão e passar o resto de sua vida pensando se poderia ter tido outra escolha. Assim como é fácil aceitar a decisão de Susan, pois obviamente ela não poderia salvar os dois garotos e entre um serial killer em potencial e um garoto de boa índole, sua escolha foi a correta.
Ambos os filmes podem ser utilizados para ilustrar, de maneira extrema, as decisões as quais as crianças e adolescentes estão sujeitas. No cotidiano familiar, muitas vezes os pais são obrigados a decidir qual filho receberá determinada regalia. Qual deles merece uma viagem de férias para a Disney e qual deverá ficar em casa.
Há casos, porém, mais sérios, de famílias desajustadas ou empobrecidas, onde a mãe ou o pai decidem por abandonar ou entregar um dos filhos ao seu próprio destino.
(artigo apresentado no curso de especialização em "cinema e educação" - 2009 - IFITEG - Goiânia - Go)