É malvado, mas não tão favorito (publicado originalmente em 24/8/2010)
'Meu Malvado Favorito' (2010) é, em base, filme sobre um malfeitor. Assim é se lhe parece. Não é bem desta forma. À primeira olhada, Gru, o vilão, é o pior dos piores. Mas o público terá a sua redenção com a nova personalidade dele. Os roteiristas Ken Daurio, Sergio Pablos e Cinco Paul pretendem jogar os espectadores à bondade pura e simples no fim da trama. Novamente, não se trata disto. O amolecedor de corações está a solta, porém com ressalvas. A ideia de Gru é roubar a lua. Copérnico é pinto ao seu lado. E esta pretensão é imaginada por causa do destino cruel do moço. Vector, o seu oponente, está a pouco de sobrepô-lo, pois a maior pirâmide do Egito, guardou debaixo da cama. A proposta da lua é bem ousada.
Os diretores estreantes Pierre Coffin e Chris Renaud fizeram uma fita razoável, pendendo para boa. Até a metade, classifico-a como morna, monótona e pouco entendível às crianças. Fala de roubos, bancos (há até uma citação ao Lehman Brothers, o banco falido da crise de 2008). O longa só engata a primeira e a segunda quando surgem as três órfãs belezinhas: Agnes, Edith e Margô. São elas as responsáveis pelas alterações de pensamento de Gru. Por meio do trio que o 'malvado' reinventa-se. É um filme psicológico.
Explico a denominação. Gru tem traumas de infância. Sua mãe o maltratava demais e tudo ficou na alma. Ao contrário de Vector, jovem mimado e cheio de vida, que tem tudo o que quer e mais um tanto. O fator cérebro conta e o protagonista tem auxiliares amarelos, bem simpáticos por sinal. A empreitada só é nota máxima se as pequenas ajudarem, junto dos amarelos. À medida que os minutos andam, tudo muda em Gru, não seu plano de surrupiar a lua. Contudo, amolece o seu modo turrão. O lado pai releva-se aqui.
Exibido também em 3D, 'Meu Malvado Favorito' é dos filmes que não necessita deste recurso. Os malabarismos dos efeitos especiais são esparsos e nota-se na comédia um frescor de roteiro. É inteligente e isto soa natural aos criadores. Está longe de peregrinar pela estrada da mesmice de implorar ao público que compreenda a história. Ela é simples sem ser brega. É empolgante da metade para frente sem usar os artifícios comuns dos desesperados: a emoção banalizante. Envolve no instante em que tem de fazê-lo e comove quando deve comover. Não é o estrondo do ano, mas diverte. Serve demais como entretenimento.
A versão dublada de 'Meu Malvado Favorito' tem dois humoristas globais: os caras de pau Marcius Melhem (Vector) e Leandro Hassum (Gru). Não dá para saber se é proposital, mas o sotaque de Hassum de espanhol canastrão é imperdível e outro destaque. Os 'tês' são uma graça à parte. E aqui no Brasil só há cópias dubladas. Tenho a impressão de que 'Meu Malvado Favorito', além de 'Toy Story 3' (2010), estará na lista dos finalistas da categoria animação do Oscar 2011. Entre os 2, para mim o favorito é o segundo.