Os sonhadores (publicado originalmente em 10/8/2010)

Para enaltecer 'A Origem' (2010) é preciso muito pouco. Basta, por exemplo, afirmar ser, de longe, o melhor filme do diretor Christopher Nolan. Mais: arrisco escrever que refiro-me ao longa que quebrou barreiras além de 'Matrix' (99). Demais? Veja você mesmo e descubra. A partir desta sexta-feira, dia 13, o Cinemark de Jacareí exibirá 'A Origem'. Pude assistir à avant première no fim de semana e só faltei ficar em pé para ver. É impressionante como pessoas podem se superar a cada trabalho. Nolan é desses casos.

O diretor estreou na profissão aos 27 anos, em 1997, com o curta 'Doodlebug'. Depois de um ano, a fita 'Following' foi a sua única produção original, roteirizada por ele. E eis que doze anos se passam e ele lança na praça a segunda trama escrita por ele, porém, iniciada em 2000. Simples, não? A década valeu os minutos, os anos, tudo. 'A Origem' é perfeito por causa de Nolan, e só. Dirigindo e roteirizando, completa a qualidade, um ao outro. Todos os outros que recebem os créditos, claro, devem-no a Nolan sem pensar.

Na história, vemos Cobb (Leonardo DiCaprio –de vez conseguiu apagar a década de 90 da carreira) como o sujeito responsável por roubar ideias dos outros. Até aí, nada fora do comum. Contudo, seu modo larápio de ser revela-se dentro dos sonhos das vítimas. Ele sabe uma maneira de penetrar na mente e, dali, surrupiar projetos, pretensões e afins, e oferece, a milhões, a empresas e corporações. O lado cor-de-rosa é a vida familiar de Cobb, que está desalinhada. A morte da esposa Mal (Marion Cotillard, a Piaf – e em 'A Origem' é tocada várias vezes a música-tema da fita sobre a cantora francesa, mas C. Nolan convidou Marion antes de ela aceitar interpretar Piaf – notem a coincidência) o aperreia cotidianamente, sem folgas.

Ainda por cima, devido ao trabalho sujo que faz, a justiça dos EUA o proibiu de entrar no país, e, assim, ele está há anos sem ver seus filhos. Contudo, com uma proposta tentadora e ousada ele pode revê-los já. O empresário Saito (o categórico Ken Watanabe) quer que Cobb insira na mente do concorrente a ideia de dissolver um império. Isto foi feito antes? É arriscado não voltar à vida? Pelos filhos, vale tudo.

'A Origem' tem muitas referências. De 'Matrix' a 'Fellini 8 ½' (1963), passando pelas próprias obras de Nolan, como 'Amnésia' (2000). Os efeitos especiais valeriam um outro ingresso. São um show à parte. A sequencia de luta num corredor giratório dum hotel é daquelas para se eternizarem na lista das dez mais da história do cinema, assim como as diversas sacadas acerca do sono, como os suaves 'chutes' e a famosa sensação de estar caindo, despertar no susto. Você com certeza teve a sensação algum dia e é ruim, não é?

A fita é para ser tema de teses, doutorados, dissertações. Não é somente filme de efeitos especiais, pois o elenco é digno de pódios... Ellen Page ('Juno'), Joseph Gordon-Levitt ('Vigaristas'), Michael Caine ('Regras da Vida') e Cillian Murphy ('Batman' – 2005) além dos já citados DiCaprio, Watanabe e Marion. Não dá muito para explicar, porque o atrativo é ver 'A Origem'. É, sem trocadilhos, um sonho bem real.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/08/2010
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