Explicações para bobagens (publicado originalmente em 3/8/2010)

Até agora, dias depois de assistir a ‘O Mensageiro’ (2009), ainda tento confabular em minha cuca o motivo de a fita ter sido tão comentada e indicada a duas estatuetas no Oscar. Não é possível que a gente da indústria cinematográfica estadunidense suporte montar tramas abarrotadas nos episódios das guerras do Iraque e no Afeganistão. Tudo bem que estas brigas bélicas sigam em seu ritmo normal atualmente. O que enche cada vez mais a paciência é a quantidade exacerbada de títulos acerca disto. Só para citar uns: ‘No Vale das Sombras’ (2007), ‘Guerra ao Terror’ (2009), ‘Voo 93’ (2007), ‘Fahrenheit 11/9’ (2004), ‘As Torres Gêmeas’ (2007). Eles são somente cinco num mar de centenas de produtos finalizados e lançados.

‘O Mensageiro’ é outro que entra na fila. O roteiro acompanha a rotina do setor de mensageiros do Departamento do Exército dos EUA. Os encarregados do trabalho devem, bastante formalmente, anunciar às famílias sobre a morte de parentes na guerra. Para o capitão Tony Stone (Woody Harrelson), trata-se de uma tarefa comum a qualquer procedimento. Basta bater na porta, encontrar o responsável e fulminar: ‘O Ministro da Defesa manifesta o seu profundo pesar pela morte de Fulano de Tal, atingido por uma bomba na manhã de hoje.’ Depois das cenas seguintes – mães berrando, pais chorando ou filhos desmaiados – eis que prossegue, com o mesmo sangue quente de um pinguim: ‘Hoje, ou talvez amanhã, novas informações chegarão até vocês. Passar bem.’ Vira as costas, sai. Mas o sargento Will Montgomery (Ben Forster) quer emoção no jogo, afinal, tem seus sentimentos. A partir daí, ‘determinados acontecimentos modificarão a vida de ambos para sempre’ (a frase é de vários resumos em versos dos filmes em DVD, não é mesmo?).

É a estreia de Oren Moverman como diretor. Moverman, que roteirizou parte de ‘Não Estou Lá’, de 2007, sobre Bob Dylan, erra feio a mão em ‘O Mensageiro’. Primeiro, por escolher um tema tão batido e que enjoou meio mundo. Segundo, por escalar Harrelson para coadjuvar o fraco Forster. Existe um muro entre a dupla e isto está explícito porque se nota falta daquele ‘esteja à vontade’ em frente às câmeras. Um não auxilia o outro. Harrelson perdeu o rumo. Está cheio de olhos e bocas, demonstrando que seu jeito de texano custa a ir embora. E depois de ‘O Povo Contra Larry Flynt’ (1996) e uma ponta como travesti em ‘Tratamento de Choque’ (2003), as obras pouco fazem aspirar. Com ‘O Mensageiro’, menos.

Quem se sai bem é Samantha Morton no papel de Olívia, uma recém-viúva que se assanha pouco a pouco a Montgomery. Ao contrário de outros longas que fez, como ‘Elizabeth – A Era de Ouro’ (2007), por exemplo, está exalando sensualidade com maneiras simples de sua personagem, tal qual era a Sarah no profundo ‘Terra dos Sonhos’ (2003)– mais um de seus filmes. De fato, é uma das atrizes mais lindas.

Enfim, qual a razão de Harrelson para melhor coadjuvante no Oscar? E porque colocar o roteiro na lista dos finalistas do prêmio? Como escrevi, até agora tento encontrar explicações para essas bobagens.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/08/2010
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