Entrevista de Eduardo Escorel (publicada originalmente em 6/7/2010)
Eduardo Escorel é mais um crítico de cinema a conceder entrevista exclusiva à Coisas de Cinema. Cineasta e montador, Escorel, 65 anos, trabalhou ao lado de feras da sétima arte brasileira, como Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade.
Atualmente escreve seus textos à revista piauí, onde se destaca pelo bom conteúdo e qualidade de base. Já foi premiado pela ABC (Associação Brasileira de Cinematografia) pela edição de 'Santiago' (2007), documentário dirigido por João Moreira Sales. Nesta entrevista, Escorel sublinha a crítica na acepção da palavra. Fala da família, Oscar, Brasil e das reclamações de amigos.
1 – Qual sua análise da atual crítica de cinema no Brasil? O senhor acredita que nomes como Eli Azeredo, por exemplo, ainda têm espaço no cenário brasileiro?
Difícil responder. A crítica de cinema, no Brasil, foi expulsa de jornais, revistas. O que é publicado, de forma geral, está mais para orientação de consumo do que para crítica. Refugiada na internet, é difícil acompanhar o que se escreve. Raramente eu leio comentários publicados em blogs. Além disso, comentar filmes é trabalhoso. Fazer crítica da crítica exigiria dedicação adicional que não tenho condições de dar.
2 – O senhor vem de uma família diretamente relacionada com a arte. Em que isto ajudou e / ou atrapalhou a sua carreira? Teve incentivos para começar na profissão?
Meu pai foi crítico literário na mocidade. Escreveu sobre letras italianas por um breve período na maturidade. Por outro lado, minha mãe e ele, além dos amigos, sempre valorizaram a literatura, o cinema e outras formas de expressão artística. Talvez isso tenha influído para suscitar meu interesse por cinema, mas não houve nenhum incentivo. Pelo contrário.
3 – O senhor fica à vontade quando escreve sobre amigos seus que são cineastas? Já teve gente que reclamou de algum texto que o senhor publicou?
Não fico à vontade quando escrevo sobre os filmes dirigidos por amigos, nem, aliás, sobre qualquer filme brasileiro, mesmo que dirigido por alguém que não seja meu amigo. E sim, já recebi reclamações: uma, mais discreta; outra, mal educada; e uma terceira, na forma de silêncio.
4 – O Oscar é importante para uns, irrelevante para outros. Na sua opinião, qual a razão de o Brasil ainda não ter conquistado uma estatueta e a Argentina, por exemplo, já ganhou dois?
O Brasil é um país pouco relevante no cenário internacional e o cinema brasileiro menos ainda. Isso influi. Mas tão ou mais importante é a inadequação dos filmes feitos no Brasil para o mercado externo. Porém, o Oscar não deveria ser uma preocupação para quem faz cinema no Brasil.
5 – Qual é o recente filme que assistiu e pode indicar aos espectadores que leem o senhor agora?
Embora seja difícil de ver, é “No quarto de Vanda” (2000), do Pedro Costa.