A Fênix germânica (publicado originalmente em 22/6/2010)

Eu estava a revirar os arquivos desta coluna, que caminha ao seu sétimo ano, tentando encontrar o texto sobre o filme 'O Milagre de Berna' (2003). Tinha a certeza de que havia escrito o comentário acerca da obra. Enganei-me. Por mais incrível que possa parecer, este longa-metragem não foi o protagonista de 'Coisas de Cinema' até hoje, porque agora sim o será. Já não era sem tempo. É uma história inesquecível.

Como estamos em clima de Copa do Mundo, o longa de sete anos atrás vem bem a calhar, pois é a narração de um dos feitos mais impressionantes na trajetória desta competição, que em 2010 completa 80 anos de vida. Dirigido pelo também ator e produtor alemão Sönke Wortmann, 'O Milagre de Berna' tem o Mundial de 1954 como pano de fundo. Ali os alemães foram centro das atenções por vencer a seleção da Hungria, então a maior força do futebol do planeta. Na Suíça, sede do torneio, a equipe germânica impôs aos húngaros a talvez maior humilhação por que o país passou no século 20, ao perderem a final por 3 a 2.

Wortmann nem era nascido quando a Hungria de Puskás dominava o cenário futebolístico com suas goleadas impiedosas. Campeã olímpica em 1952, a seleção era a principal favorita para vencer a Copa de dois anos depois. A própria Alemanha sentiu o golpe nas primeiras rodadas do Mundial, quando sofreu a derrota por 8 a 3. Na final, ambos se reencontraram e a Alemanha virou um jogo que estava 2 a 0 para a Hungria. Choveu aquele dia e isto, para muitos, foi o que decidiu o campeonato em favor dos prussianos.

A recriação cenográfica da fita é incrível. Desde figurinos, com os uniformes impecáveis, além dos ternos e tudo o mais, passando pela casa dos Lubanski, típica família alemã de classe remediada dos anos 50, e aí contando a impecável direção de arte, até a fotografia impressionante e severa de Tom Färhmann, tudo em 'O Milagre de Berna' faz você viajar até a Suíça de meio século atrás. E a relação de Matthias, o menino que é fanático pelo time da Alemanha, com os jogadores é duma inocência esplêndida e cândida.

Vivendo na pequena cidade de Essen-Katernberg, numa região afastada da Alemanha, os Lubanski seguem a seleção pelo rádio. Os conflitos familiares são minguados na medida em que o time do técnico Sepp Herberger ganha as partidas. Matthias é o mais ansioso com as vitórias e torce pelos ídolos Helmut Rahn e Fritz Walter, isto em confronto com o pai, que não dá a mínima e recrimina os seus filhos por isto.

Löuis Klamroth é o intérprete de Matthias e emociona o público pela sua perseverança e otimismo. Wortmann acompanha todo o caminho da Alemanha até chegar à decisão. O país, destroçado pela guerra que acabara menos de dez anos antes do começo da Copa de 1954, conseguiu a superação inacreditável ao derrotar o adversário. O diretor, autor do roteiro ao lado de Rochus Hann, imprimiu a onda de comoção, o que de fato ocorreu. A competição realmente foi diferente. A Alemanha renasceu das cinzas, como Fênix.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 24/06/2010
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