O filme que superou 'Avatar' (publicado originalmente em 8/6/2010)
Junho e julho, além de dezembro e janeiro, são meses horríveis para quem ama cinema. O motivo é recalcitrante: este período é das férias escolares, e isto lembra crianças, que puxam fitas que chegam até a sala com cópias dubladas, por exemplo. Não bastasse isto, os enredos, evidentemente, são os mais banais possíveis – infantis, para dizer a verdade. A garotada adora e os adultos ficam obrigados a pagar os patos.
Pois bem. Depois do desabafo, o comentário. 'Querido John' (2009), a começar pelo título, é o mais água com açúcar dos longas desta temporada. Dirigido pelo competente sueco Lasse Hallström, 64 anos, que também esteve à frente do ótimo 'Chocolate' (2000), a película abrange no roteiro a época bélica dos Estados Unidos no começo do século 21, com Afeganistão, torres gêmeas e disparo de tiros a tiracolo. Ou seja, uma balela acerca da qual já estamos cansadíssimos de assistir. É igual a lenga-lenga de muita obra.
Não chega a macular a trajetória de Hallström, porém enche a paciência de qualquer um. O script é de Jamie Linden e fala sobre os desencontros do casal Savannah (Amanda Seyfried, 'Mamma Mia' –2008) e John (Channing Tatum, de 'Guerra dos Mundos' –2005), o do título. Ele serve ao exército estadunidense e está desfrutando de uma curta licença antes de se reapresentar. Ela é uma estudante impetuosa que curte as férias. Apaixonam-se, mas o soldado deve voltar ao combate.
Prometem mandar cartas, já que acesso a e-mails, para o militar, é restrito e bastante difícil. Assim a dupla se relaciona durante anos, até a jovem se cansar e casar com outro, por pena, e ainda amando o rapagão. Idas e vindas fazem com que Savannah e John terminem, claro, juntos eternamente. Surpreso com o desenrolar da trama? Imagino que não. Sabia.
'Querido John' foi o filme, pasmem vocês, que conseguiu a proeza espetacular de tirar 'Avatar' (09) do topo da bilheteria dos EUA depois de somente sete semanas da estreia da superprodução 3D. Isto, sem dúvida, foi um feito e tanto. Mas para por aí. Pode-se afirmar que o maior baile do longa de Hallström foi este mesmo. Nada mais. Aliás, a mão boa do diretor consegue dar algum crédito ao filme. Se estivesse ali algum outro diretor sem a cordura do sueco, 'Querido John' teria ido direto ao barranco, na ladeira abaixo.
Amanda e Channing ainda são atores inexperientes e foram colocados no caldeirão de protagonistas e ambos não deram conta. Sem sal, ambos só fazem se esparramar pelas cenas. A atriz, que de bonitos só tem o par de olhos azuis, mesmo assim com rosto esquisito, é tão fraquinha que parece que Hallström fez do desaparecimento dela no meio da fita um zape que tinha escondido na manga. Channing é ainda pior. O que possui de músculos, tem de Ricardo Macchi. Lembram dele? O Igor daquela novela da Globo. Se 'Querido John' conseguiu superar 'Avatar' em ingressos vendidos, isto se deve exclusivamente ao diretor.