Como se chegar ao 'nível' (publicado originalmente em 11/5/2010)

Muitos se referiam a 'Um Sonho Possível' (2009) como uma versão masculina de 'Preciosa' (2009). Há a certa verdade nesta afirmação. Os personagens centrais são negros, as famílias são pobres e existe um alto grau de sofrimento de ambos. Contudo, finca-se uma diferença: a menina segue a vida ruim; o menino dá a virada e se torna famoso. O antagonismo e a semelhança cessam aí. 'Um Sonho Possível' é esplêndido.

Uma história de envolvimento previsto com o público. Combina drama e comédia na biografia filmada de Michael Oher, o Big Mike, famoso jogador de futebol americano dos Estados Unidos. Simplificando, para você entender: Oher tem a mãe viciada em drogas, pai desconhecido. Vai morar com um tio, que o espreme na casa. Rejeitado também por ele, não tem aonde ir, a não ser o colégio cristão onde estuda. É aí que entra Leigh Anne Tuohy. Socialite, rica e altruísta, ela enxerga o rapagão e o convida a morar com sua família. Ele aceita e não há sequer rejeição.

Como se sabe, esta fita foi a responsável por dar o Oscar de melhor atriz a Sandra Bullock na festa deste ano. Sim, ela mesma. A mesma atriz que em toda carreira fez raríssimos filmes que prestassem, como o, bom... deixa pra lá. O que aconteceu foi a desistência de Julia Roberts. Convidada para o papel, declinou, e o segundo personagem de vida real que interpretaria na década, depois de Erin Broncovich, a mulher de talento, caiu nas mãos de Sandra. E, críticas à parte, a ex-musa de Velocidade Máxima esbanja seriedade e aprume em cena. O que soou a mim é que Sandra Bullock trabalhou 22 anos (começou em 87) apenas fazendo o 'feijão com arroz' e guardou debaixo da cama esta atuação calibrada e caprichada a algum momento oportuno. Estava esperando um bom trabalho surgir. Primeiro veio 'A Proposta' (2009), fita que tratamos meses atrás. Depois, 'Um Sonho Possível'. Está com ar de jovem senhora, finalmente. Presentou a ela mesma. De fato, necessitava se superar.

Dirigido e roteirizado por John Lee Hancock, o filme ainda teve tempo de revelar Quinton Aaron. Como Michael Oher, este grandão de 2,03 metros, ex-segurança, domina a telona sem falar muito. Aliás, a Academia lhe deve uma indicação, pois ele deveria constar na lista dos concorrentes de ator coadjuvante, mas não estava. Porém, o longa constou nos dez selecionados a melhor filme. Perdeu para 'Guerra ao Terror' (2009) de forma merecida.

Se ganhasse 'Avatar' (2009) a injustiça prevaleceria. 'Um Sonho Possível' é melhor à boa distância. E Hancock não fez muito esforço. Percebe-se isto principalmente nas sequências entre Sandra e Aaron. Química é o que sobra entre eles. O elenco de apoio, formado por Jae Head (S.J.), Lily Collins (Collins) e Tim McGraw (Sean) vai além das expectativas porque exatamente precisa trabalhar 'pouco', digamos assim. Mas o garoto Jae é a surpresa boa dentre o trio. Todo cheio de sardas e dentes tortos, alegra a trama com seu jeito de empresário. Os instantes nos quais 'negocia' com os treinadores são impagáveis, assim como os treinamentos com M. Oher.

Sandra conquistou o estrelato, o status. Mostrou que sabe ser a boa atriz. Daqui para frente os diretores terão de tomar cuidado para enviarem os roteiros toscos de antes. Agora Sandra tem o que se chama de 'nível'.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/05/2010
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