O Brasil não pode sediar a Copa (texto-bônus ao Recanto das Letras)

Em outubro de 2007, o presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, anunciou o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. A notícia veio, portanto, quase sete anos antes do início do campeonato. Muito bem. Tanta antecedência assim não acontecia desde a divulgação de que o Mundial de Futebol de 1978 seria na Argentina, em meados de 1971, cinco anos antes do golpe militar ser instaurado naquele país. Mas desde que a entidade máxima do esporte mais popular do planeta abriu as cortinas para a nação verde e amarela receber o torneio, eu fiquei ressabiado.

Não porque o Brasil não mereça. Longe disso. Outros lugares já abrigaram Copas em duas oportunidades, como a França (1938 e 98), a Alemanha (54 e 2006), México (1970 e 1986, quando a sede seria a Colômbia, mas por atraso de obras e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias, a Fifa mudou para o México) e Itália (1934 e 1990). Os brasileiros, que organizaram o evento em 1950, do trauma do Maracanazzo, têm todo o direito de quererem trazer à América do Sul, depois de mais de três décadas, uma Copa do Mundo.

Todavia, há contratempos. E estes possuem os nomes: sonegação fiscal, propina, corrupção, lavagem de dinheiro, atrasos, obras intermináveis, superfaturamento etc. De outubro de 2007 até agora, maio de 2010, já se foram dois anos e sete meses. O que foi feito? Nada. Isso mesmo: absolutamente nada, seja em estádios, ou em reformas, ou ainda em ideias. Somente se fala. E se fala muito. Quando o assunto é dinheiro, então, sai para lá. São milhões, bilhões, trilhões. Notem o exemplo: acabei de ver na ESPN Brasil, emissora de tv a cabo, que o Ceará especula em cerca de R$ 450 milhões a reforma do Castelão, estádio no qual atuam tanto Ceará quanto o Fortaleza.

O Engenhão –Estádio Olímpico João Havelange –levantado para os Jogos Pan Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, custou praticamente a mesma quantia: R$ 450 milhões. Quem está errado? O RJ, em querer economizar na construção, ou o CE, em abusar da grana? Resposta: ambos. Explico o (s) motivo (s). Diga aí: o país necessita mais de hospital ou estádio de futebol? Boas escolas com bons professores ou estacionamentos?

O ponto nevrálgico é este. Há mais. Sabe por quantas reformas o Maracanã já passou? Não? Nem eu. A cada novo campeonato mais relevante, lá vai o estádio Mário Filho ficar meses parado. Uma hora é o gramado que precisa ser rebaixado. Outra é as cadeiras que precisam ficar adaptadas. Mais uma é a infraestrutura pelo bairro. Enfim, a conclusão de benfeitorias nunca vem. E quando achamos que vem, é somente ‘uma nova etapa do processo de modernização’. Definitivamente, uma vergonha.

Vemos em países na Europa, como a terra da rainha, a Inglaterra, estádios cheios em jogos da terceira, quarta divisões. Primeira e segunda são o suprassumo deles. Aqui, o futebol é subvalorizado. Você assiste a partidas da divisão principal do futebol nacional com uns mil torcedores, quando não menos. Isso sem falar nos torneios estaduais, que menosprezam os torcedores e às vezes cenas deprimentes como duelos com 100 pessoas no estádio surgem por aí. Voltando para a Inglaterra, a revista piauí fez uma matéria sobre a organização deles uns dois anos atrás. Comparar Brasil e Inglaterra? Não.

Muitos jornalistas se pronunciaram sobre a sede, a favor ou contra. A Fifa já está cobrando o Brasil para ver os primeiro resultados e, claro, até o momento nada existe de concreto. O Morumbi se transformou na mais estupefata das zebras ou elefantes brancos, se preferir. Um dia, abrirá a Copa. No outro, não tem capacidade de sediar sequer peladas de casados e solteiros. O amadorismo é tanto não se sabe quantas sedes a Copa terá, se 8, 10 ou 12. A final será no Maracanã. Isto está certo. E a abertura? Qual Estado receberá? São Paulo, Brasília ou Minas Gerais? Lobbies não faltam.

A política ferve quanto a este tema. Outro ponto visto de forma errônea é o prazo. Os estádios não devem ficar prontos em junho de 2014, quando a Copa começa, mas sim em junho de 2013, pois o Brasil recebe a Copa das Confederações. Tudo bem que a África do Sul não seguiu rigorosamente o plano e só agora está acabando os estádios. Mas o Brasil deve pegar como modelo a África ou a Alemanha, cujos locais de jogos estavam prontos com muita antecedência? Nem é a hipótese de se pensar nisto aí mesmo.

Para finalizar, a conclusão é o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. O Brasil não pode, de jeito algum, sediar a Copa do Mundo de 2014. Só malucos pensam o contrário. Você é maluco ou uma pessoa sã?

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/05/2010
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