Pró-paulistano (publicado originalmente em 27/4/2010)

Esta semana dei uma passada por São Paulo e lá na capital está em cartaz uma fita sobre o qual vou discorrer hoje: ‘As Melhores Coisas do Mundo’ (2010). Trata-se de um filme brasileiro e, pasmem, sem qualquer referência a favelas, pobreza, violência (por roubo, assassinato etc) e presídios. Não impressiona este fato? Claro que sim. A diretora Laís Bodanzky tem uma boa parcela de responsabilidade por isto. É o seu quinto longa-metragem e em todos ela primou pelo esmero da boa qualidade. Foi assim, por exemplo, nos categóricos ‘Bicho de Sete Cabeças’ (2001, com o ator Rodrigo Santoro inspiradíssimo) e ‘Chega de Saudade’ (2007). Nesta obra, ela expõe um grupo de adolescentes envoltos com os problemas típicos dos adolescentes. Estão à baila temas como a sexualidade, embates com os pais, paixões platônicas e dúvidas existenciais. Com certeza, quando você vir o filme se porá na pele de algum personagem, não tem como.

Do mesmo modo que Laís ‘hipnotizou’ Santoro no trabalho de 2001, aqui ela se debruça totalmente em Francisco Miguez e Gabriela Rocha. Estreantes na sétima arte, a dupla de atores foi bem orientada e deixou o filme bem bonito de se ver, simplesmente. Miguez é Hermano, apelido Mano. Aos 15 anos, este jovem estuda numa escola particular que chama de ‘Big Brother do Mal’. Há vários motivos para isto. Em casa, os seus pais Camila (Denise Fraga – nós precisamos nos acostumar a vê-la em papéis dramáticos) e Horácio (Zé Carlos Machado) estão se separando e Mano leva esta novidade, digamos assim, numa boa. O irmão mais velho dele, Pedro (Fiuk – vem aí a nova safra de atores – ele é filho do cantor e ator Fábio Júnior), não. Metido a poeta e escritor, ele tem tendências depressivas e aceita com menos gosto a ‘nova adesão’ do pai. Em meio a eles está Carol (Gabriela), a confidente melhor amiga de Mano. É uma graça.

‘As Melhores Coisas do Mundo’ foi totalmente rodado em São Paulo. É um típico filme daqueles de ‘ôrra, meu’, mas isto é um elogio que faço. Ultimamente o cinema brasileiro tem se centrado em muito estereótipo esquisito e maquiado e Laís, com o roteiro baseado em escritos do jornalista superpaulistano Gilberto Dimenstein, se deteve num grupo de adolescentes com um sotaque esplendidamente da cidade de São Paulo, principalmente a atriz Gabriela Rocha. Esta característica acrescenta bastante à trama porque dá a ela um ambiente aonde crescer. Assim, foi feliz a escolha de dois atores também bem enraizados com São Paulo: Caio Blat, como um professor de física que desperta suspiros de Carol, e Paulo Vilhena. Este, finalmente, conseguiu um personagem sério para fazer. É Marcelo, o professor de violão de Mano e espécie de psicólogo para o garoto. Denise Fraga e Zé Carlos Machado dão força a este longa-metragem.

Quem tiver a chance de assistir a ‘As Melhores Coisas do Mundo’ e tiver mais de 25 anos se verá nas cenas. Não pelo uso de celular, Internet, que eram de difícil acesso quando frequentei o colegial. Mas pelo prazer de ver aqueles problemas que a gente achava de morte e, na verdade, eram água-com-açúcar.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 02/05/2010
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