Pobres de nós (publicado originalmente em 20/4/2010)

É impressionante como alguns atores conseguem se perfazer e ainda assim têm muita dificuldade e cacoetes em perder uma caricatura. Gerard Butler, por exemplo. Morrerá como o garanhão, brutamontes e machista de outrora. Foi assim de 'P.S. Eu Te Amo' (2007) para frente. Em 'Caçador de Recompensa', que estreou sexta-feira no Brasil, a demonstração comparece e comprova-se. A história vem como mero pano de fundo para ele começar a falar com sua pronúncia forçada e extremamente artificial, de policial esperto e na espreita. Esse roteiro conta as aventuras de Milo (Butler). Policial despedido por negligência, pega o emprego de capturar pessoas fugitivas da justiça, cujas boladas em dinheiro são grandes. Então, cai nas mãos dele a missão de correr atrás de Nicole (Jennifer Aniston), jornalista experiente, ex-mulher de Milo.

Achou comum? Puro clichê? Sim, você está certo. Na medida em que o detetive caça a ex, o amor de ambos volta a tona e blá, blá, blá. Não há nem a coerência e compaixão para com o público, que vira o pobre coitado disto tudo. Andy Tennant, o diretor (o mesmo do ruim 'Hitch: Conselheiro Amoroso'), tem-se a impressão de que ele sequer se esforça a melhorar o script da estreante Sarah Thorp. O que se vê ali na telona é uma sucessão de piadas sem graça, exibições dos músculos (?) de Butler e etc. Bobagens sim. Jennifer continua bela, como nos tempos de 'Friends'. Não chega a ser atriz de ponta, mas pelo menos é a simpatia em pessoa. Sem conseguir se desvencilhar da Rachel do seriado dos anos 90, compromete pouco e até tem bons momentos. Mas a canastrice de Butler impera. Melhor para ele. Ficará marcado por isto e os personagens com este biotipo não lhe faltarão, pode ter certeza. Este cinema está cheio de maluquices.

A trama estreia em um momento bom tanto para Butler quanto para Jennifer. Dizem por aí que eles começaram romance durante as filmagens. Mas, coincidência ou não, esta química passou muito longe da tela. Em 'Caçador de Recompensa', a dupla simplesmente encena. Nada mais. Tudo bem técnico, sem dar a emoção que os papéis exigiam. 'Ou não', como diz Gilberto Gil. A fita deixou tanto a desejar que assim que surgiu o final, aliás tremendamente previsível, tive um acesso de alívio. Nem a beleza de Jennifer, aos 40 anos, consegue segurar a qualidade. Além de falas manjadas e cenas sem qualquer surpresa, 'Caçador de Recompensa' machuca o público ainda por querer ser pretensioso. Recursos dramáticos e humorísticos são usados a esmo. De novo, pobres de nós. E pararei por aqui porque não possuo mais cartas na manga a criticar esta obra, que nada tem de prima. Trata-se, isso sim, de um longa muito, mas muito fraquinho.