Carregadores de piano (publicado originalmente em 13/4/2010)

Sam (Tobey Maguire, o 'Homem Aranha') tem a família perfeita: a esposa Grace (Natalie Portman, de 'Closer') e as filhas Isabelle e Maggie. Fuzileiro dos EUA na guerra do Afeganistão, ele está às voltas com uma nova frente de batalha. Terá de ir novamente ao ponto bélico (esteve durante um período já) e, assim, deixar pessoas que ama para trás. Ainda há Tommy (Jacke Gyllenhaal – 'O Segredo de Brokeback Mountain'), o irmão mais novo e problemático de Sam, que acabou de sair da prisão – e Tommy não se dá com o pai, o militar aposentado Hank (Sam Shepard). Administrar estes problemas todos é difícil, mas os danos de uma guerra são praticamente irreversíveis. E o soldado jamais renega a sua pátria. Lá se vai ele.

Todavia, a tragédia se transforma em vida real quando o helicóptero de Sam é atingido e cai. Dado como morto à família, Grace e as crianças têm de se virar com uma nova realidade. Repentinamente, o tal do irmão rebelde se transforma em bom moço e auxilia a viúva no cotidiano. A companhia faz o amor dos dois florescer. Mas, surpresa: o fuzileiro sofreu piores males de guerra, como torturas psicológica e física, porém suportou tudo e está vivo. De volta ao lar, a readaptação é complicada. Bastante traumatizado e as dores do confronto incessantes, Sam fica com delinquência exposta. Isto é o fino de 'Entre Irmãos' (2009).

Nós vimos este filme antes. Aliás, o próprio diretor Jim Sheridan já nos mostrou duas histórias de superação com o ótimo 'Terra dos Sonhos' (2005) e o fabuloso 'Meu Pé Esquerdo' (1989). Sheridan, cuja origem é a irlandesa, sabe como manobrar este tipo de roteiro. Contagia os atores. Faz com que eles deem a alma pelo personagem. Veja, por exemplo, Maguire. Em nada se assemelha ao estilo infantil do Homem Aranha. É outro ator. Precisou emagrecer para o papel e está impecável principalmente na segunda parte da fita. Aparece em somente 40% do longa, entretanto domina as cenas. Repare nos olhares psicóticos nos instantes de desespero. Está atordoado, desnorteado, desamparado. É um soldado à procura de identidade.

Natalie está bela como sempre. Mais madura, parece que a direção de Mike Nichols em 'Closer' fez bem à atriz. A cada nova empreitada, brilha como uma profissional experiente, apesar de ter menos de 30 anos. Com Jake ocorre quase o mesmo, porém ele é a luz apagada da trama. Também a necessidade o fez ser assim em 'Entre Irmãos'. Com Sam à beira de enlouquecer, Tommy teria de ser o seu oposto. Cresce à medida que o filme anda. Sereno e tranquilo, Jake, nota-se, sabe o que está fazendo. Aplausos a Sheridan.

'Entre Irmãos' tem pontos fortes. Escrevi aqui acerca da interpretação de Maguire, Jake e Natalie. A direção de Sheridan é equilibrada. O roteiro é que é meio repetitivo. Está aí um ponto fraco. E é curioso. Com script deixando a desejar, o elenco toma rédeas e dá cartas. O diretor correu o risco de se encrencar e teve 'sorte' porque os atores carregaram vários clichês e lugares-comuns do tamanho de um piano. Deve muito ao cast o sucesso da trama e a indicação de Tobey Maguire ao Globo de Ouro 2010 de melhor ator.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 19/04/2010
Código do texto: T2206231
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.