Na Copa eu viro criança (texto-bônus ao Recanto das Letras)
Nasci em ano de Copa. Foi a da Espanha, em 1982. Na época do torneio tinha pouco mais de quatro meses. O Brasil foi eliminado e acabou em quinto. Passaram quatro anos e o México sediou a Copa pela segunda vez. Meu irmão nasceu neste ano, ano de Copa. Eu contava só quatro anos e estava no Jardim da Infância e nem sabia o que era o futebol. Passou em branco... Os canarinhos também foram eliminados e ficaram em quinto. Em 90, estava com oito anos, na terceira série na escola. Continuava sem saber o que era futebol. Nem conhecia jogadores. O Brasil foi mal de novo, terminando em nono, mas me recordo um tiquinho da final, no começo de julho. Argentina e Alemanha duelaram e parentes nascidos na Argentina estavam por aqui e viram sua nação sucumbir diante dos frios europeus. Eles ficaram tão, mas tão tristes...
Veio 1994. Eu estava na sétima série, com 12 anos, e desde o ano anterior era interessado nos jogos de futebol. Comprei o álbum e acompanhei cada partida do Mundial na casa da minha avó, junto com os meus pais, irmão, tia, avó e um primo. O pênalti chutado para longe do Baggio até hoje me causa muitas sensações arrepiantes. Já aos 16 anos, em 98, cursava o terceiro ano do colegial e na minha cabeça vinha a vontade de entrar à universidade de Jornalismo. Os vestibulares se aproximavam, mas dava tempo para eu assistir a Copa da França. Novamente a casa da minha avó era o nosso camarote. Vibrei com a ida para a final e fiquei decepcionado com a goleada que o Brasil levou na decisão, com Z. Zidane dando um baile.
Os asiáticos receberam a competição de 2002. Tinha 20 anos, estava no último ano da faculdade de Jornalismo e tive de fazer força para acompanhar os jogos. Não os do Brasil, que havia ‘abandonado’ de torcer dois anos antes, mas os da Alemanha, nação que adotei. De madrugada, os olhos pelejavam para a atenção dar aos duelos. Aí meu envolvimento com o futebol era extremo.
Estudava mesmo o assunto. Lia, me dedicava, fazia estatísticas etc. E tive sorte. A Alemanha caminhou célere à finalíssima. Coincidência ou não, o adversário era o Brasil... Vi o jogo sozinho, em meu quarto, de pijama, enquanto uma turma de umas dez pessoas acompanhava na sala. Os alemães tomaram de dois a zero e fiquei de mau humor o dia todo. Quatro anos depois, aos 24, trabalhava como assessor de imprensa. Tirei férias para seguir o torneio. A Copa era a dos meus sonhos: na Alemanha. Germânicos, favoritos. Ficamos em terceiro... O Brasil em quinto. Perceberam que usei o ‘ficamos’? A Alemanha, para mim, virou um bibelô. O Brasil é a lástima.
Agora em 2010 estou quase casado, passei em um concurso público para jornalista e tenho 28 anos. Vou comprar o álbum da Copa, a camisa oficial da Alemanha e ver todos os 64 jogos, assim como foi em 2006. E também estarei em férias no período. A Copa é o deleite de qualquer apaixonado por futebol. Eu, como um amante indelével deste esporte, triunfo junto com os 30 dias de campeonato. Viro criança pura... É o 10º ano que torço pela Alemanha, contra cinco pelo Brasil. Vamos ver se obteremos o esperado tetra!
*Este é o primeiro texto que publico neste espaço acerca das Copas. Serão muitos. Detalharei meus motivos de ‘jogar fora’ e desprezar o Brasil e me enamorar com a Alemanha. Contarei causos engraçados e dramáticos em que a Copa está no meio. Ah, como gosto de Copas do Mundo... E 2010 é ano de Copa.