Memórias embaçadas (publicado originalmente em 25/3/2010)
Escaldado pelo tremendo sucesso obtido por ‘Lua Nova’ (2009) e ‘Crepúsculo’ (2008), mais pelo seu aspecto de príncipe encantado das moças do que por boas atuações, o jovem ator Robert Pattinson foi chamado pelo diretor Allen Coulter para trabalhar num filme ‘sério’: ‘Lembranças’ (2010).
O roteiro foi concentrado em tragédias pessoais: Tyler Hawkins aos 16 anos encontrou seu irmão de 22 morto, após ter se matado; Ally Craig aos dez assistiu ao assassinato de sua mãe durante um assalto. De alguma maneira, a dupla de resvala e inicia um romance. Ponto. O restante são situações secundárias envolvendo ambos. E Tyler (Pattinson) é rebelde e tem uma horrorosa relação com o pai, o empresário Charles (Pierce Brosnan, o 007 da década de 1990). Já Ally (Emile de Ravin, a atriz australiana que esteve em ‘Inimigos Públicos’) é superprotegida pelo pai, o policial Neil (o sempre regular Chris Cooper, de, entre outros, ‘Adaptação’ e ‘Beleza Americana’). Dois adolescentes supostamente problemáticos. Dava para se fazer uma fita e tanto?
Pois é. Coulter (do pretensioso ‘Hollwoodland’) tinha o razoável script do estreante Will Fetters nas mãos e não soube aproveitá-lo bem. Nota-se que Pattinson é um ator verde, por exemplo. Nas suas cenas, está sempre com a mesma cara: os olhos quase fechados, direcionados a um ponto fixo, e murmurando as falas. Tem de ser trabalhado pelos próximos diretores que topar na frente, pois Allen Coulter não prestou atenção neste detalhe. Emile se sai um traço melhor, porém parece estar acostumada com câmeras de TV às de cinema.
Brosnan e Cooper fizeram pouco esforço à obra. Foram bem. Têm experiência para dosar as atuações. O destaque é Ruby Jerins, a atriz mirim de 11 anos que faz a irmã de Tyler, Caroline. Sóbria e simples, a menina esbanja intimidade e simpatia com a câmera... A naturalidade dela impressiona e é mais solta a Pattinson, para se ter ideia. E o papel é difícil, porque o pai a renega e ela precisa muito do apoio do irmão, além de ser considerada esquisita pelas coleguinhas de escola. Com tão pouca idade, já é ótima.
Com desfecho de certa forma surpreendente, ‘Lembranças’ peca pela falta de iniciativa. É daqueles longas-metragens que a gente espera algo de impacto e acaba se conformando com a mediocridade. Com a popularidade de Pattinson hoje, talvez a fita não faça água. Às gurias que aguardam só um rosto bonito, ver ‘Lembranças’ as satisfará. Aos outros, se quiserem ver de forma adulta, sairão do cinema com a ponta de aflição. A impressão é que o título deveria ser outro, mais a ver com o filme: ‘Memórias Embaçadas’.