E o Oscar? (publicado originalmente em 11/3/2010)

Depois que vi ‘Guerra ao Terror’ (2008) fiquei com dificuldade de entender o motivo de este filme apenas ser lançado aqui, em meados do ano passado, somente em dvd. Mesmo sendo uma quase produção independente, dirigida por Kathryn Bigelow, a fita é de extrema qualidade. Melhor que ‘Avatar’ (2009). E não à toa, saiu da noite do Oscar como a maior vencedora. Levou nas categorias principais: filme, edição, direção e o roteiro original, e as técnicas edição e mixagem de som. Aos azuis de James Cameron foram sobrar direção de arte, efeitos especiais e fotografia – e estas foram merecidas. Dentre os quatro quesitos de atores, nada de surpresa. Jeff Bridges, Sandra Bullock (os principais), Christoph Waltz e Mo’Nique (os coadjuvantes) venceram por ‘Coração Louco’, ‘Um Sonho Possível’, ‘Bastardos Inglórios’ e ‘Preciosa’, respectivamente. Aliás, a vitória de Bullock dá esperanças a Eddie Murphy e Steve Martin para ganhar a estatueta. Não que ela seja má atriz, longe disso, mas ficou marcada por longas de se perderem o respeito.

Falando ainda na premiação dos atores protagonistas, não gosto da forma de apresentação deles, o que por sinal já foi usado ano passado. Cinco outros atores ou atrizes discorrendo maravilhas sobre todos os indicados é muito demorado, além de ser brega e soar artificial. Porém, deve-se ficar registrada aqui a emoção de Gaboury Sidibe, de ‘Preciosa’ (2009), que não conseguiu segurar as lágrimas quando ouviu a produtora do filme, a apresentadora Oprah Winfrey, elogiá-la na apresentação. Realmente, Gaboury tinha de ter mais sorte e se conquistasse o Oscar de melhor atriz não seria uma zebra, mas sim, o merecimento.

Por falar nisto, as categorias trilha sonora e animação ficaram bem nas mãos de ‘Up’ (mesmo com ‘O Fantástico Senhor Raposo’ quase roubar a cena, em minha opinião), assim como o roteiro adaptado de ‘Preciosa’. E o que dizer acerca de ‘O Segredo dos Seus Olhos’, a película argentina vencedora de filme estrangeiro? É o segundo Oscar aos nossos vizinhos, contra zero da gente (o outro foi em 1985). Como se vê, o Brasil não sabe de fato montar filmes ‘de Oscar’ e enviar ‘Salve Geral’ para concorrer na festa deste ano ficou cheirando a amadorismo puro. Além destes, nos curtas de animação, vi todos e achei injusto o prêmio a ‘Logorama’ (entretanto eu me assustei quando vi o realizador deste filme dizer, no discurso, que demorou seis anos para fazer o curta!). Preferia ‘Um Assalto à Francesa’. Para finalizar, os outros Oscars, a ‘Star Treck’ (maquiagem), ‘A Jovem Victoria’ (figurino) e ‘Louco Amor’ (canção), não posso comentar porque não assisti a esses filmes. Mas de qualquer maneira, Oscar é Oscar e tudo fica bem entregue, não?

Agora, a cerimônia propriamente dita perdeu demais o brilho e glamour de outrora. Steve Martin e Alec Baldwin se saíram bem na condução dos trabalhos, com piadas bem sacadas e tiradas inteligentes (o ‘desprezo’ a George Clooney foi impagável). Todavia, sinto falta de Billy Crystal, por exemplo. Até hoje não vi mestre de cerimônia melhor. Dizem que Bob Hope era insubstituível, mas eram outros tempos. E outro ponto que deixou a desejar foi o buraco das grandes estrelas. Onde estavam Jack Nicholson, Dustin Hoffman, Al Pacino na plateia? Procurei-os e não os achei. É porque não foram mesmo. O esvaziamento se faz presente até em personalidades do século 21, como Scarlett Johansson. Será que a sétima arte está desacreditada? Ninguém dá mais bola a ela como há vinte anos? Não sei... É algo para se pensar. E muito.

Tenho 28 anos e acompanho o Oscar desde os 16, 17. Lembro-me de ver o programa como a festa que era às segundas-feiras e que não podia assistir porque começava tarde e terminava mais tarde ainda. E isto porque ia a aula no dia seguinte. Para mim era um mistério ver a premiação de ator, atriz, diretor e a de filme por serem as últimas e por isso serem de madrugada aqui no Brasil. Mas depois de 2010, quando vi um Tom Hanks apressado nem sequer mencionar os indicados e disparar ‘The Hurt Locker’, com ar de ‘quero ir embora rápido daqui’, fiquei decepcionado. Acho que isto não mudará tão cedo. Nem em 2011.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 08/03/2010
Reeditado em 11/03/2010
Código do texto: T2126477
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