Um 'Avatar' piorado (texto-bônus ao Recanto das Letras)
Como pode um diretor perder tempo com um projeto do naipe de ‘Distrito 9’ (2009)? Sim, pode. E Peter Jackson desperdiçou talento e esforço para levar esta fita adiante. Já na metade do longa percebe-se a falta de categoria, no que, na minha visão, trata-se de uma adaptação mal acabada de ‘Avatar’ (2009). Em ‘Distrito 9’, Johanesburgo, nos anos 1980, é invadida por seres extraterrenos. A nave gigante pousa e, com defeito, habitantes têm de se acostumar com os camarões, modo simpático de como os extraterrestres foram apelidados. Porém, o próprio governo se ocupa de jogá-los em um gueto particular, o tal Distrito 9. Isolados pelo governo, são maltratados e humilhados, além de viverem na penúria e na absoluta pobreza. Qualquer comparação com o Apartheid é pertinente. Negros desprezados, os brancos dominando a África.
Duas décadas depois, uma crise política e financeira se instala no país. O governo se vê obrigado a retirar os alienígenas do lugar aonde vivem para outro. Mas a tarefa é complicada, porque os ‘estranhos’ agora têm família e estão fixados ali. O despejo é dificultado por eles. Assim, um funcionário do governo, Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley) é encarregado de convencer a população ‘estrangeira’ a se mudar. Merwe acaba se contaminando com o fluído preto e aos poucos se transforma em um deles: primeiro as mãos, depois dentes etc. E tudo isto tratado com o devido rigor pelo diretor Neill Blomkamp (Jackson é o produtor). Cenas exageradas, com teor nojento, são exibidas. Às vezes, chego a pensar que a evolução da maquiagem e efeitos especiais fez mal à indústria de cinema. O público não é obrigado a ver certas coisas.
Vamos compará-lo com ‘Avatar’. Há um espaço diferente dos humanos (Pandora e Distrito 9). Há a população ‘anormal’ (Na’Vi e os andróides). Há quem queira explorar o lugar com alguma finalidade (os cientistas Jacke Sully e Grace Augustine, para compreender o cotidiano dos Na’Vi, e Merwe, para retirar os extraterrestres do Distrito e transferi-los). Há a interação dos povos (Sully e Grace ficam no corpo dos avatares; Merwe se contamina e o corpo sofre mutações). Por fim, há militares supostamente invencíveis nas batalhas, mas que sucumbem no fim, derrotados que são pelos seres (General Quaritch e o mercenário da MNU, empresa responsável pelas experiências com os alienígenas). Não são pontos perfeitamente em comum, porém se parecem – e muito – com a megaprodução de James Cameron e sua turma. Isso é claro. Mas Blomkamp não se baseou na história dos ‘azuis’ para compor o ‘Distrito 9’, mas sim na sua infância passada na cidade de Johanesburgo e a segregação do Apartheid, que teve como ícone Nelson Mandela.
Sou bastante suspeito para fazer difamação de ‘Distrito 9’ porque detesto obras de ficção científica. Esses aliens a mim nada simbolizam, a não ser a me remeter a ascos, ojerizas. Somente os clássicos ‘Uma Odisseia no Espaço’ (1968) e ‘Blade Runner: O Caçador de Andróides’ (1982) me caem bem. Do restante se aproveita muito pouco, na minha visão. Entretanto, a trama de Blomkamp rendeu revelações artísticas, como o ator sul-africano Sharlto Copley. O curioso é que ele apenas participara de um curta-metragem no ano de 2005 antes de atuar em ‘Distrito 9’. E se sai satisfatoriamente razoável como o funcionário público que de uma hora para outra se transforma num simbionte e perde família, amigos e o emprego. De ‘nerd’ ele se modifica e passa a ser um guerreiro que quer somente sobreviver e se curar da mutação. Mais um ponto a favor do diretor são efeitos visuais. Isso já era esperado ser de muita qualidade, pois Blomkamp, antes de dirigir filmes, era o fazedor dos efeitos. E a voz dos extraterrenos também é um capítulo à parte.
Enfim, em ‘Distrito 9’ tem choque cultural, diferenças de raças, submissão e obediência dos menos favorecidos, revolta de um humano contra o ‘sistema’ e o agrupamento final de humano e alienígena. Para mim, uma película média que não deveria estar na lista dos dez indicados a melhor filme de 2009 na festa do Oscar 2010. Das que assisti, sem sombra de dúvida é a pior. Todavia, repito: sou suspeito para opinar, pois quero distância das produções de ficção científica. Caracterizo ‘Distrito 9’ como um 'Avatar' piorado.