Sempre Kate (publicado originalmente em 18/2/2010)

A última coluna que escrevi sobre um filme com Kate Winslet afirmei que na maior parte dos trabalhos dela, a atriz aparece sem roupa. E em 'O Leitor' (2008) isto se repete. Escrevo isto sem a intensão de criticar severamente a porção sexual dela ou a história da fita. É exatamente o contrário. Kate Winslet é linda e 'O Leitor', baita trama. O diretor Stephen Daldry e o roteirista David Hare, os dois de 'As Horas' (2002) se deram bem com a novela de Benhard Schlink sobre o jovem que tem o envolvimento com uma moça mais velha e depois descobre que ela guarda um assombroso segredo.

Impressiona sobremodo como scripts acerca da Segunda Guerra Mundial chamam ainda hoje a atenção de todos, independente de a qualidade ser boa ou ruim. Neste caso é boa. E boa por causa de Kate. Trata-se de uma profissional dotada de uma regularidade anormal e que deixa o público de queixo caído. A atriz não precisa fazer qualquer esforço para trazer a responsabilidade a si e demora pouco a dominar os longas dos quais participa. Aqui, basta a sua primeira aparição e pronto: já tem dona o filme. Os demais atores, dentre eles Ralph Fiennes ('O Paciente Inglês' – 1996) coadjuvam.

'O Leitor' é a história de Michael Berg (Fiennes na fase adulta, David Kross na adolescência). Aos 15 anos, doente, vai se proteger da chuva na casa de Hanna Schimtz (Kate), uma mulher com a dose de mistério bem aflorada. Logo iniciam um caso e começam a se encontrar periodicamente. O tempo passa e Hanna abandona seu lar e Michael. Alguns anos mais tarde, o garoto, agora estudante de Direito, acompanha o julgamento de ex-nazistas. Para a sua surpresa, Hanna está no grupo a ser condenado. A partir daí, o filme, antes um tanto monótono, se arrisca a ser um dos melhores do ano.

Daldry faz Fiennes duelar com Kate nas cenas e esta atitude do diretor auxilia bastante a fita no seu desenrolar. O ator se sai bem nestes embates artísticos. É ela quem conduz 'O Leitor', porém a presença dele enriquece sem comprometer. Fiennes é daqueles atores de estilo clássico, com ar de estrela anos 1920, 1930, e aqui isto o ajuda a compor o personagem. Seu porte europeu lhe dá esta segurança. Portanto, posso concluir que Daldry não teve tanta força em 'O Leitor'. É evidente a sua contribuição à obra, mas ela no filme importa menos. Fiennes e Kate, sempre Kate, sobressaem-se.

Certas curiosidades permeiam a feitura de 'O Leitor'. A principal delas talvez seja a entrada de Kate no projeto. Primeiramente, ela recusou, pois estava às voltas com as filmagens de 'Foi Apenas um Sonho' (2008). Então, a produção contratou a atriz-botóx Nicole Kidman para dar vida a Hanna. Entretanto, ela engravidou e teve de desistir, ainda mais porque 'Austrália' (2008), a fita em que ela dividiu os holofotes com Hugh Jackman, estava em voga. Neste ínterim, Kate ficou disponível e, aí sim, iniciou as filmagens. E um pouco antes, Juliette Binoche estava cotada para interpretar Hanna.

Mais uma informação, desta vez tétrica, foi a morte dos dois produtores de 'O Leitor': Sidney Pollack e Anthony Minghella, também diretores, faleceram antes de a fita estrear nos cinemas. E a última curiosidade foi a premiação do filme: no Globo de Ouro, Kate ganhou como coadjuvante. No Oscar, recebeu a estatueta como principal. Não dá para entender o critério disto. A única certeza é a de que ela tem tudo para se fixar como o principal nome do ecrã na primeira metade do século 21.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 21/02/2010
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