O que é a natureza... (publicado originalmente em 14/1/2010)
Pense: o que um diretor de cinema que acaba de ser consagrado e laureado por todos os prêmios, as críticas mais bem satisfatórias possíveis, faz ao terminar exatamente este trabalho? Claro, primeiramente tira férias. E depois? Começa a projetar outro trabalho. Mas a dúvida que fica é: este meu próximo longa-metragem será mais bem sucedido do que o anterior?
James Cameron estava, suponho eu, com este tipo de mentalidade no começo de 1998, quando viu seu ‘Titanic’ (1997) emergir na festa do Oscar com as 11 estatuetas conquistadas, dentre elas as de melhor filme e diretor... Em 1999 ele arrumou uma nova ideia. Acreditem ou não, ‘Avatar’ (2009) começou a nascer naquele ano. Mas Cameron logo abortou a história de filmar seu próprio roteiro de seres que querem proteger o país Pandora dos humanos porque os efeitos especiais da época eram bem precários e ainda por cima caríssimos de serem realizados. Teve de esperar.
Ocupou o tempo dirigindo, produzindo e roteirizando séries para a televisão. Quando 2003 chegou e Cameron assistiu às maravilhas tecnológicas da trilogia de ‘O Senhor dos Anéis’, principalmente ao ver o personagem Gollum – computadorizado completamente, com feições de um homem – ele se convenceu de que os efeitos especiais haviam atingido um nível desejado. Agora sim poderia avançar com ‘Avatar’. O embrião foi denominado ‘Projeto 880’, a ser rodado antes de ‘Battle Angel’ (provavelmente este será o filme seguinte de Cameron) e foi apresentado em 14 de junho de 2005.
A programação era usar câmeras digitais 3D, estúdios virtuais. Em 2007, após oito anos de persistência, ele venceu pela insistência. Então, as filmagens iniciaram. A estrela Sigourney Weaver, de ‘Allen’ (1986, dirigido por Cameron) encabeça o elenco como a cientista Grace Augustine. Estão também neste cast Sam Worthington (o protagonista Jake Sully, o armeiro), Zoe Saldana (Neytiri), Giovanni Ribisi (Selfridge) e Stephen Lang (Coronel Quaritch).
‘Avatar’, na verdade, são os seres híbridos controlados pelos pensamentos dos humanos que, assim, dão vida aos avatares, espécie de clone dos Na’Vi. Pandora é uma lua extraterrestre, onde vivem criaturas estranhas como os Na’Vi, os azuis com rosto de felinos, medindo três metros de altura e que têm relação primitiva com a natureza. Querem protegê-la dos intrusos. Estes, por sua vez, somos nós, os humanos.
E tudo por causa de um metal valioso, que vale bilhões de dólares. Jake é um militar paralítico que entra em Pandora em substituição ao irmão gêmeo, morto em um assalto. A primeira impressão de Grace sobre ele não é das melhores. Cabe a Quaritch e Selfridge o plano de invasão territorial e a destruição dos Na’Vi’s.
Entenderam a sacada de Cameron? Para melhor compreensão, aqui vai uma das frases de Selfridge: ‘Tentamos levar a eles estradas, remédios, progresso e eles resistem.’ Ou seja, o que aconteceu no planeta todo: dominação, genocídio, guerra etc. A história pode parecer boba de imediato, mas James Cameron a transforma em um digno espetáculo cinematográfico. Assisti a ‘Avatar’ duas vezes – na projeção normal e em 3D.
Em 3D é sensação fora do comum. As imagens são lindas, cenários perfeitos, efeitos especiais que valeram a pena esperar quase dez anos para serem feitos. Por fim, o diretor já pode gabar-se de ser o responsável pelas duas maiores bilheterias da história do cinema: ‘Titanic’ – US$ 1,8 bilhão – e ‘Avatar’, perto deste montante, ou superando-o logo. Como diria o ator Zé Trindade: “Mas o que é a natureza...”.