Não quero ser grande (publicado originalmente em 7/1/2010)
Você já assistiu a um filme cujo desfecho te fez pensar: ‘Tudo isso para isso?’, ou ‘Acabou assim, desse jeito mesmo?’. São muitos, de fato. Nos últimos dez anos, por exemplo, cito aqui ‘Assassinato em Godsford Park’ (2001) e ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ (2008), apesar de eu classificar estas duas fitas como boas. Seja pela esquisitice da sequência derradeira ou pela explicação meio torta no fim, há longas metragens ficam na memória não pela qualidade, mas pela confusão final. ‘A Órfã’ (2009) está incluído nessa lista. Dirigido pelo desconhecido espanhol Jaume Collet-Serra e produzido por, entre outros, o ator Leonardo DiCaprio, a história se fixa em Esther (Isabelle Fuhrman, estreante na sétima arte –dominou seu papel de ponta a ponta). A garota de nove anos, a órfã do título do filme, é adotada pelo casal Coleman: Kate e John (Vera Farmiga, de ‘Os Infiltrados’, e Peter Sarsgaard, de ‘Plano de Voo’). Ambos têm trauma de terem perdido de maneira trágica um de seus três filhos. Então, adotam Esther para recompor a família.
Diversos clichês são usados em ‘A Órfã’. Collet-Serra não poupa o público disso. Como diz Rubens Ewald Filho, ‘o trailer é melhor que o filme às vezes...’. Quando vi alguns clipes da fita, fiquei muito bem impressionado. Dava a sensação de que seria um terror carregado de tensão e suspense. Ao sentar-me na poltrona do cinema, veio à baila a frustração. Os realizadores apenas cumpriram seu papel. Não ousaram. E isso, para este tipo de trabalho, é um pecado inestimável. O espectador tem a expectativa de encontrar naquele longa-metragem um terrorzão. Acaba ficando cara a cara com uma obra insossa e que transparece demais a inexperiência do diretor. Como não poderia deixar de ser, a atriz mirim Isabelle Fuhrman está no único ponto bom do filme. Nestes trabalhos recentes dos cinemas, as crianças têm se destacado bastante. E com ela foi igual. Antes apenas atuando em filmagens de TV, Isabelle se sobressaiu diante das câmeras do cinema. À vontade, apavora o público em determinados instantes... Preencheu satisfatoriamente a tela.
Uma coisa que pelo menos ficou na minha cabeça e que logo ao chegar em casa procurei saber foi a idade de Isabelle. Nas cenas finais de ‘A Órfã’ é revelado um segredo um tanto tosco (remetendo-me ao primeiro parágrafo). A atriz desempenha-se tão bem que me fez verificar sua idade. Para quem interessar possa, Isabelle nasceu a 25 de fevereiro de 1997 – 12 anos, portanto. Porém, na fita, às vezes parece ter 9, outras vezes 17, outras 31 anos. No desenrolar da trama, fica evidente esta confusão etária. Quanto à Vera e Peter, seguiram à risca o plano de J. Collet-Serra: no jargão futebolístico, “cumpriram tabela”. Isso quer dizer que quiseram se comprometer pouco. Aos 35 anos, o diretor, mesmo ficando à frente de ‘A Casa de Cera’ (2005 – remake da película de mesmo nome de 1953), patinou na finalização de ‘A Órfã’. Depois de 2005, comandou ‘Gol 2: Vivendo um Sonho’ (2007), segunda parte da trilogia sobre um menino pobre que vira um ídolo de futebol. Como se vê, filmes pequenos para um diretor que, definitivamente, não quer ser grande, como, aliás, é objetivo da miniprotagonista de ‘A Órfã’. Aqui calhou direitinho a Collet-Serra.