Tudo para sempre (publicado originalmente em 24/12/2009)
Nesta véspera de Natal trago a este espaço um filme que certamente, daqui alguns anos, ilustrará a lista dos melhores longas realizados na história do cinema. Posso estar exagerando, mas com certeza não se trata de um aumento à toa. ‘Up: Altas Aventuras’ (2009), desde antes de sua estreia, na época de todos os preparativos para levar a fita às telonas, a obra da Pixar, em parceria com os estúdios Disney, dirigida por Peter Docter (de ‘Monstros S.A.’–2001 e roteirista de ‘Wall-E’, 2008 e ‘Toy Story’ 1 e 2 –1995 e 98), gerou muita expectativa do público. Isto porque se veria a história cujo protagonista era um senhor de 78 anos. A produção arriscou nesta parte e arrebatou os espectadores de imediato. Não poderia ser diferente.
Docter escreveu um roteiro à moda antiga. Carl Fredricksen (no Brasil dublado por Chico Anysio) é um vendedor de balões de quase 80 anos. Desde pequeno sonhava com as aventuras de um super-herói no seu avião e, ainda petiz, conheceu Ellie, uma garota cheia de esperteza fã do mesmo personagem. Eles se casaram. Ellie morre, já velhinha. Desgostoso com a vida, Carl vive solitário em sua casa, sossegado, até a chegada de um empresário. Ele deseja comprar o imóvel para construir algum empreendimento. Depois de um incidente em que Carl é condenado a viver num asilo, o vendedor se revolta. Pensa na floresta da América do Sul para o casal sempre desejou morar. Enche a casa de balões, iça-a, vai rumo ao seu sonho.
Tudo em ‘Up’ é muito poético. Desde o encontro dos dois, até a partida da casa. O lado lúdico fica bem claro logo nas primeiras sequências. Docter realizou um belíssimo trabalho, juntando emoção, muita diversão e magia. E lembrando sempre que o protagonista é um idoso, fora completamente dos padrões de beleza e estética do planeta. O canto divertido está no relacionamento de Carl e Russell, o menino de oito anos que atormenta o velho com suas história de escoteiro. Acidentalmente, o menino embarca com Carl quando a casa vai pelos ares. A aventura está engatada. É só esperar rolar os acontecimentos. O trio fica completo com a chegada de Beta, o cachorro falante. A viagem é demorada, mas ninguém nota o tempo.
‘Up: Altas Aventuras’ tem todos os requisitos necessários para conquistar prêmios em 2010. Claro, o principal deles, o Oscar, é um dos favoritos, senão ‘o’ favorito, na disputa na categoria Animação. Será a zebra do tamanho do teatro Kodak se outro desenho levar a estatueta. O longa provavelmente estará nas listas de roteiro original e, como teve mudanças na categoria Filme, no rol das dez películas indicadas. A chance maior deve ser a de roteiro. No filme, como não se tem ideia de quais produções entrarão na lista, isto é incógnita. Mas já é um clássico de animação. Como escrevi no começo deste texto, ‘Up’ é daquelas obras que em 2050, 2060, será repercutida, elogiada pelas crianças, mostradas que serão pelos pais e avôs.
De volta ao script, Docter mais uma vez não decepciona. Seu trabalho é, como sempre, inovador e a todas as idades. Quem assistir a ‘Up’ e for casado, noivo, estiver namorando, se identificará com o casal central. Sem dúvida, o amor sem barreira. Com Carl Fredricksen e Ellie, é para sempre, foi para sempre...