Bruto que ama (publicado originalmente em 17/12/2009)
Clint Eastwood também sabe fazer filme de amor. Que o diga Meryl Streep. Aliás, foi a última vez dele neste tipo de enredo. Em 1995, o livro de Robert James Waller serviu de inspiração para o diretor e ator realizar ‘As Pontes de Madison’. Richard LaGravanese, diretor e roteirista do recente e meloso ‘P. S.: Eu te Amo’ (2007), escreveu o script de ‘As Pontes de Madison’.
Eastwood, além de ser responsável pela direção, compôs a trilha sonora e produziu a obra. Reconhecido internacionalmente como ator de fitas de sangue, como os faroestes da década de 1960 e histórias sobre matadores nos anos 1970, Clint Eastwood prosseguiu com este estilo durão até o início da década passada. A partir daí, mas não por muito tempo, se concentrou em dramas esquisitos, como ‘Caubóis do Espaço’ (2000). Então, em 1995, mergulhou naquele romance do fotógrafo charmoso com a dona-de-casa entediada. Convidou Meryl para dar conta do papel.
O resultado foi bom porque a história é boa e ainda Eastwood se preocupa demais com o esmero da direção de ator. A trama começa com a morte de Francesca Johnson (Meryl). Ao revirarem o baú dela, os filhos encontram fotos e um diário. Nele, a falecida narra seu envolvimento com Robert Kincaid (Clint), fotógrafo da revista da National Geographic. O fato pega os herdeiros de surpresa, pois jamais pensaram que a mãe, uma pacata senhora que dizia ‘amém’ para tudo o que o marido fazia, fosse capaz de traí-lo.
E isto se dá quando pai e filhos saem de casa por quatro dias, para um evento. Kincaid chega logo depois à procura duma ponte próxima do rancho dos Johnson. Desta mera pergunta, nasce uma tórrida e autêntica paixão. Desde o princípio, o público sabe que a atração da dupla é efêmera. Há a ponta de chance de dar certo, mas o diretor-ator não nos dá esperanças. Para Francesca, a felicidade tem o tempo de quatro dias.
A concepção do longa-metragem é digna de pódio. Eastwood levou toda a equipe para Iowa, direto ao Condado de Madison, um dos 99 dos EUA. Filmou nas próprias pontes citadas. Históricas no país, as pontes são um ponto característico em várias nações. Clint Eastwood aproveitou as de Madison, claro. As cenas são extraordinárias. Uma, por exemplo, quando Francesca está na ponte observando o trabalho de Kincaid. O verde aos poucos se mistura com o resto da paisagem. Em outra, o fotógrafo insiste em tirar as fotos da amada – imagens estas que serão vistas pelos filhos da dona-de-casa, embasbacados... Esta súbita paixão da mãe faz com que eles tenham dúvidas acerca de seus próprios casamentos.
Porque não dizer ‘eu te amo’ mais vezes à esposa ou ao marido? Será que o casamento vale a pena realmente? Quais são prós e contras das uniões? Por meio da mãe, os filhos questionam os cotidianos. ‘Ela aproveitou a vida... E nós?’
Mas as cartas revelam mais. Francesca era deveras dedicada à família, entretanto mostra quase nada de arrependimento pelo ocorrido. Na pele da aventureira-adúltera, Meryl Streep bateu ponto na festa do Oscar. Foi sua décima indicação (recebeu mais cinco até este ano, tanto na categoria principal como na de coadjuvante). ‘As Pontes de Madison’ figura como um dos melhores filmes de Eastwood, um dos maiores romances vistos nas telas dos cinemas. Originariamente brutamonte, Clint provou que pode amar também.