Sonífera ilha (publicado originalmente em 3/12/2009)
Filmes de ficção científica raramente me agradam. ‘A Ilha’ (2005) não entrou neste panteão. Foi o quinto trabalho do diretor Michael Bay –anteriormente, ele havia comandado sucessos de bilheteria, como ‘Armageddon’ (98) e ‘Pearl Harbor’ (2001), e atualmente esteve às voltas com os longas ‘Transformers’, realizados em 2007 e 2009. A fita de quatro anos atrás nada mais é, ao meu ver, do que uma imitação bem chinfrim de ‘Blade Runner: O Caçador de Andróides’ (1982). A produção com Harrison Ford no papel de Deckard mostrou ao mundo os replicantes, seres escravos responsáveis por explorar outros planetas. Em ‘A Ilha’, o enredo é praticamente o mesmo, com uma diferença: aqui são clones criados a colaborar com os seus ‘donos’ cedendo-lhes partes do corpo danificadas por doenças incuráveis. Protagonizam a trama a sempre bela Scarlett Johansson e Ewan McGregor. Ela é Jordan Two Delta (a clone) e Sarah Jordan (a ser humano). Ele vive Lincoln Six Echo (o clone) e Tom Lincoln (humano). O roteiro funciona da assim: os clones não sabem sua origem e desejam chegar à tal Ilha porque acreditam ser ali o lugar totalmente sem qualquer contaminação no planeta. Porém, Six Echo descobre a verdade: são partes de um plano maligno.
Evidentemente, carrega com ele a sua amada, Delta. Passam por desventuras e contratempos e têm ainda de lidar com o mundo real. No outro, até os pensamentos são manipulados. Contam com a ajuda de determinadas pessoas e deparam-se com os ‘titulares’. Como todo filme com ação, perseguições ocorrem e os efeitos especiais dominam as cenas. Mas não tanto. A discussão acerca de clonagens parece ter vindo na hora certa. A ovelha Dolly, copiada em 1996, abriu espaço para conversar do tipo. As discussões e as perguntas de quem deveria ser clonado ou não, os perigos que mexem com a ciência etc, vieram à tona e muita gente se questionava sobre os benefícios e principalmente os malefícios do uso desta manobra. Até a Rede Globo chegou a fazer uma telenovela abordando o assunto. Em ‘A Ilha’ temos a amostra de que as respostas são vagas. Bay criou o cenário da catástrofe, maus tratos e dilacerações. Exibiu ao público só o lado ruim. E o bom? Se há de fato, pelo menos cinco minutos deveriam aparecer na tela, de maneira que a linha sobre a célula tronco ficou ao escanteio. Os cientistas são maus e a Terra deve se livrar de egoístas como Tom e Sarah, que querem criar pessoas, tirar delas a alma, sobretudo. A película, aí, derrapa muito.
Os motivos de o diretor ter chamado Scarlett e E. McGregor ao elenco se devem exclusivamente às aparências ‘limpas’ na câmera. Loiros, de olhos claros, ambos são modelos perfeitos de como ‘deve’ ser o ser humano. Não há muito que fazer em cena, a não ser falar e correr. Por isto, os atores de nenhuma análise podem ser sujeitos. E outro buraco é o excessivo tempo de duração: 127 minutos. Em determinado ponto, cansa. Dá sono. De repente, acorda-se com uma explosão. Bay pensou bem nisso, parece, sem ser de propósito o trocadilho. O caso é que se ele desejava ver a Scarlett Johansson correndo com os cabelos molhados, poderia ter filmado outra espécie de script. A sensação que tive após o término da obra foi: a esperança ainda vencerá. Claro, o pensamento nada tem a ver com o trecho final de ‘A Ilha’, onde todos se salvam. Está colado, isso sim, às novas produções do diretor. É uma fita que, mesmo tendo Scarlett e a sua beleza encantadora, não recomendo a vocês... Ajudará aqueles que sofrem completamente de insônia.