Filme esquecível (publicado originalmente em 19/11/2009)
É regra e praticamente esbarra muito pouco em exceções: filmes sobre a Segunda Guerra Mundial costumam emocionar os espectadores. Seja por um gesto solidário (‘A Lista de Schindler’ –1993), amores interrompidos pelo confronto (‘A Vida é Bela’ – 1998 e ‘Casablanca’ – 1943), a ajuda ao companheiro de combate (‘O Resgate do Soldado Ryan’ – 1998), as traições e expectativas dos ataques (‘A Um Passo da Eternidade’ – 1953) etc, os longas cujos temas miram as lutas mundiais que ocorreram entre 1939 e 1945 pegam sempre o público por algum calcanhar mais frágil. Recentemente, um em especial chamou a nossa atenção por colocar uma lupa no relacionamento de duas crianças – uma do lado nazista, outra dos judeus – em plena batalha: ‘O Menino do Pijama Listrado’ (2008). Baseado em livro de John Boyne, a fita tem a direção e o roteiro assinados pelo inglês Mark Herman. A trama central de Boyne foi extremamente feliz. Herman, por sua vez, adaptou-a de forma fraca. Desperdiçou uma bela chance de se firmar como diretor.
A história é quase banal. Um oficial nazista (David Trewlis, dos filmes ‘Harry Potter’) é deslocado de seu trabalho. Tomará conta agora dum campo de concentração. Para isto, muda de casa. Sai de Berlim e vai a um lugar isolado, sem nada para o garoto Bruno (Asa Butterfield), seu filho, fazer. Enquanto a sua mãe (Vera Farmiga, de ‘Os Infiltrados’) se distrai com afazeres da casa, o menino decide explorar aquele território. Na mata, caminhando a esmo, chega até a grade de cerca elétrica: o tal campo de concentração que o pai é responsável. Sentado perto dos fios até Shmuel (Jack Scanlon). Cabelos raspados, dentes bem maltratados, suando, e o traje dos prisioneiros destes campos: roupa listrada, parecida mesmo com pijama. Ao ver um garoto com idade igual à dele, Bruno quer saber porque Shmuel está ‘até agora de pijama’. Ao tomar contato com a realidade do recém amigo, o filho do general germânico argui ao pai sobre o que se passa no local. É exatamente aí que Herman poderia caprichar, pois a película ganha força.
A começar pelo elenco sem sustentação, nota-se que desde o princípio a produção derrapou na sua proposta. Coube apenas às crianças da fita fazerem a diferença. Outro ponto típico do descaso ou da falta de iniciativa de Herman é a duração do filme –94 minutos. Não sou contra a esta hora e meia, mas dá para suspeitar da conduta do diretor. O assunto era chato? Não. Ele poderia ter rodado mais cenas importantes e deixar de lado as irrelevantes, como, por exemplo, a da discussão na mesa de jantar entre o pai de Bruno e seu subordinado? Sim. Então, qual a razão de escapar isto pelas mãos? Incapacidade e incompetência? Talvez. O restrito tempo de filmagem (abril a julho de 2007) pode ter influenciado de alguma forma? Não acredito. Ainda assim, ‘O Menino do Pijama Listrado’ cata o público pela lágrima, principalmente na sua parte final. Evidentemente ocultarei os instantes derradeiros. Entretanto, asseguro que foge bem do usual. Quem leu o livro sabe a que me refiro. Butterfield e Scanlon, sobretudo, conseguiram se superar nisto.
O laço de amizade no front entre a dupla mirim é magnífico. É o único ponto firme da realização. Os atores adultos, vejam só, cambaleiam enquanto os dois sobressaem-se. Mérito de Herman? Não sei se seria capaz disto e deixar à vontade os demais. Fica bem claro que largou a mão dos veteranos e amparou os petizes. Nada, porém, que faça com que o longa deixe de ser marcado como um “trabalho esquecível”.