É este mesmo? (publicado originalmente em 5/11/2009)
Daqui a pouco, em fevereiro, a Academia de Artes Cinematográficas escolherá os finalistas para a edição do Oscar 2010, a ser realizado em 7 de março. Como sempre acontece, o Brasil enviou um filme e espera que ele figure na lista dos concorrentes. O apontado: ‘Salve Geral’ (2009), de Sérgio Rezende. E já era de se esperar. Até agora não consigo entender porque os votantes do Ministério da Cultura insistem na determinação de roteiros que exibem a violência que assola nosso país. Fizeram péssima escolha. O único ingrediente bom ali é a atuação de Andréa Beltrão. A atriz sabe dosar bem os ritmos de comédia e drama.
Rezende tinha como mais recente trabalho a direção de ‘Zuzu Angel’ (2006), com Patrícia Pillar. E agora parece querer homenagear Hector Babenco e Fernando Meirelles neste longa. Lúcia e Rafael (o sem sal Lee Thalor), mãe e filho, mudam de casa após a viuvez dela. O dinheiro é apertado. Andando em más companhias, o garoto se mete em um ‘racha’ e acaba matando acidentalmente uma jovem. Preso, conhece as obscuras faces do crime e os organizadores do Partido (alusão ao PCC – Primeiro Comando da Capital, jamais citado no filme). Lúcia, por sua vez, se envolve no crime por osmose. Fica amiga de Ruiva (Denise Weinberg), a advogada porta de cadeia que depois será revelada como das cabeças do tal Partido.
O que o espectador vê? Amontoados de presos, corrupção na polícia, humilhações degradantes e até um romance de Lúcia com Professor (Bruno Perillo), bandido também da alta conta do Partido. Não podia ridicularizar de outra maneira. A visão do script é a de dentro da penitenciária. O público depara-se com o ódio e a revolta dos prisioneiros. Nada há acerca do desespero da população, dos falsos boatos que foram ditos naquele Dia das Mães de 2006 e os dias seguintes, quando praticamente todo o Estado de São Paulo parou, alertado e boquiaberto que estava com tamanha tragédia. A obra de Rezende, inclusive, já foi alvo de protestos do ex-secretário de Segurança do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho. Quem assiste a ‘Salve Geral’ conclui que o personagem do secretário, interpretado por Luciano Chirolli, fez acordos com os presos para que terminassem com badernas. Abreu negou veementemente que fez estes acordos.
A Academia não necessita enxergar os males tupiniquins. Já os conhece de longa data, vide tramas como ‘O Pagador de Promessas’ (1962), primeira película verde-e-amarela a ser indicado na categoria de melhor filme estrangeiro. Qual a razão de não mandarem documentários como os sobre Paulo Gracindo, Chacrinha e Paulo Vanzolini? E daí se são deste gênero cinematográfico? Os votantes estão preocupados com a qualidade do trabalho. Sem dúvida, estes três documentários citados têm requinte melhor ao ‘Salve Geral’. Sinceramente, considero uma tremenda lástima. Vi a produção de Rezende e ficarei bastante, mas bastante mesmo, surpreso se ela estiver entre as cinco melhores na festa máxima da sétima arte mundial.
Para 2009, o Ministério indicou ‘Última Parada: 174’ para concorrer ao Oscar. Qual é o ponto alto desta trama? Violência, pobreza, maus tratos etc. Com ‘Salve Geral’ estiveram no páreo filmes como ‘A Festa da Menina Morta’, ‘Budapeste’, ‘O Menino da Porteira’ e ‘Feliz Natal’. Acredito que poderiam se dar melhor as produções dirigidas por Selton Mello (‘Feliz Natal’) e Matheus Nachtergaele (‘A Festa...’). Sobre a realização de Sérgio Rezende, repito a frase que escrevi sobre ‘Última Parada: 174’: de novo, sem chances no Oscar. É este mesmo o indicado? Têm certeza? Temos de aprender a fazer fitas menos cruas.