Para a eternidade (publicado originalmente em 29/10/2009)
São necessárias homeopáticas doses de paciência para ver os trinta minutos iniciais de ‘Te Amarei Para Sempre’ (2009). Isto porque neste tempo nada é explicado ao espectador. Vemos o garoto Henry e a sua mãe Annette (Michelle Nolden) sofrerem um grave acidente de carro e logo depois um outro Henry (o ator Eric Bana, de ‘Hulk’ e ‘Munique’) dizendo ao primeiro que ele não pode se intrometer no futuro. As cenas seguem e este Henry maduro surge nu em certos pontos da cidade, procurando por roupas. E numa biblioteca, aonde trabalha, aparece Clare Abshire (Rachel McAdams) dizendo que o conhece desde a sua mais tenra infância. Mas Henry nunca a viu. Qual será o mistério disto tudo? Há uma satisfatória resposta.
O diretor alemão Robert Schwentke (‘Plano de Voo’) adaptou o romance de Audrey Niffenegger às telonas a pedido de Brad Pitt, o comprador dos direitos do livro ainda no tempo em que era casado com a atriz Jeniffer Aniston (eles queriam protagonizar a fita, mas separaram-se antes). Anteriormente, Pitt quis que David Fincher, Gus Van Sant, Steven Spielberg assinassem a direção, mas o trio recusou. Schwentke foi sua 4ª opção. As demais escolhas que declinaram foram Adrien Brody (‘O Pianista’) e Eva Green (‘Os Sonhadores’), porém não porque não quiseram fazer os papéis principais –eles estavam cotados, mas nem sequer receberam convite. Bana e Rachel conquistaram as atuações, se deram bem. Não comprometeram.
Na película, Henry sofre desde criança com uma mutação genética que o faz viajar no tempo sem a intenção. Então, não sabe de onde e para onde partirá. Segundos antes deste transe, ele está sob pressão ou estressado por algum motivo. Ao sumir, deixa as roupas. Por isto, sabe coisas de seu futuro e do passado e não pode interferir. Por exemplo, Henry vê o acidente em que a mãe morre, mas ele nunca pode salvá-la.
O veterano roteirista Bruce Joel Rubin (‘Ghost’) arrumou o corpo do filme. Deu à trama um ar bem explicativo. Entretanto, nada tão fácil assim. O público é entregue à verdade passo a passo. Quando Rubin emperra, cabe a Schwentke manejar o script e consertar as sequências para que ‘Te Amarei Para Sempre’ se torne maleável e de boa digestão. Um quesito que compromete é a direção de arte de Peter Grundy (‘A Luta Pela Esperança’). E não era para menos... O personagem de Eric Bana viaja no tempo para as tantas remotas datas. Grundy dá a carga geral aos objetos, roupas etc. A precisão é deixada de lado por conta da alta rotatividade de filmagem. É praticamente impossível ser cirúrgico. E o diretor de arte fez o que pôde.
Todavia, é evidente que ‘Te Amarei Para Sempre’ possui seus tons corretos. A fotografia de Florian Balhaus é bonita, principalmente no prado, lugar no qual Henry e Clare se conhecem – ela com seis anos e ele com quase quarenta. A beleza de Rachel contribui a esta solução, já que Bana até hoje, para mim, é a lembrança do Hulk do século 21. Sua figura ainda está muito ligada à do monstro verde. Na verdade, ele foi mal escalado para o filme. Brody tampouco seria boa solução. Pitt cairia bem. Brandon Routh (o novo Superman) também ficaria melhor porque este tipo de fita pede um galã, e não um brutamontes legítimo. Mesmo assim, E. Bana não se sai mal. Encarnou direitinho a forma de fantasma que aparece e desaparece.
Se de um lado o longa-metragem escorregou ao apontar o ator principal, de outro acertou na mosca na busca pela intérprete de Clare quando menina. A atriz mirim canadense Brooklynn Proulx encanta com a sua meiguice e esperteza. Esta boneca de porcelana chega a roubar a cena quando ela e Bana interagem.