Do 1 ao 9 (publicado originalmente em 22/10/2009)

O planeta Terra foi totalmente destroçado. A máquina faz-tudo foi inventada, mas se rebelou contra seu criador e destruiu-o. Humanos não existem mais. Em um ambiente sórdido, sombrio, encarquilhado, apenas oito seres montados por meio de pedaços de sucata e panos remendados perambulam em busca de não se sabe o quê. Ou melhor: agora são nove, porque o cientista elaborador daquela máquina diabólica, antes de morrer, deu vida ao nono ser. Perdido, este retalho caminha para conhecer a sua salvação e, por consequência, também a do universo. O enredo de ‘9: A Salvação’, lançado neste mês nos cinemas, é tão esquisito quanto chamativo. É ao mesmo tempo arrastado (não importam os seus 79 minutos de duração) e vibrante. Pode isso tudo numa mesma fita? Sim. Basta que o espectador tenha paciência de ir até o fim.

O diretor Shane Acker começou a história de ‘9’ em 2005 ao lançar no mercado o curta-metragem de igual nome. O roteiro de aproximadamente dez minutos fez tanto alarde pela objetividade e apuro que a Academia o agraciou com a indicação na categoria melhor curta-metragem de animação. Não levou este prêmio, mas, de quebra, conquistou outro: a admiração de Tim Burton, que naquele período havia lançado o também desenho ‘A Noiva Cadáver’. Acker e Burton se conheceram, tornaram-se amigos e mais do que isto: parceiros profissionais. O diretor de ‘Batman’ (1989) o ajudou a montar o agora longa-metragem ‘9’. Para isto, chamou Pamela Petter, uma das responsáveis pelo script de ‘A Noiva Cadáver’ a contribuir com a feitura da película. O resultado é o bom entretenimento, porém gorduroso demais. Existem excessos ali.

Na aventura, 9 liberta sem querer a besta-fera das máquinas e portanto precisa desesperadamente de sorte a fim de não se transformar em um monte de parafusos jogados no chão. Número por número, quer dizer, amigo por amigo, ele vai conhecendo seus compatriotas de pano: o líder 1, o mais velho deles, o 8 bonachão e assustador, a ninja 7, os gêmeos superinteligentes 5 e 6, e 2, que acaba de tornando o melhor amigo dele e é capturado pela máquina maluca. Tem, claro, o 3 e o 4. Entretanto, eles aparecem pouco na tela. Surgem algumas surpresas no roteiro e o público depara-se com desenho de ficção científica. Acker imprime em ‘9: A Salvação’ as referências cinematográficas, tais como ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’ (1968), ‘Matrix’ (1999) e ‘O Mágico de Oz’ (1939). A fita acaba virando um amontoado de significados.

A vontade de acertar do diretor, todavia, o salva do desastre. Tenho a certeza de que a história vai a caminho de virar cult em pouco tempo, por exemplo. Se por acaso for às prateleiras das lojas o boneco 9, será outro sucesso porque ele é muito simpático. Há, evidentemente, os escorregões do roteiro. Diversas cenas de ação e de muito barulho incomodam o público. Algumas sequências poderiam ser excluídas da obra, ainda que o filme ficasse com menos minutos. O que se nota é que Acker e Pamela concordaram em aumentar a duração até onde desse. Talvez esta solução não foi a melhor e ‘9: A Salvação’ se perdeu aqui. Os pontos altos são fáceis de identificar. Os detalhes dos cenários são extraordinários e a técnica de som é retumbante. E, sobretudo, a ideia de S. Acker é destacável. Tim Burton está de parabéns por tê-la acatado.

Troféus em 2010? Difícil. Quem sabe – a suposição é remota – o longa consegue ficar nos finalistas de melhor animação. Mas seguramente o diretor perderá de novo. ‘Up: Altas Aventuras’ ganhará (2009).

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 24/10/2009
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