Entrevista de Rubens Ewald Filho (publicada originalmente em 17/8/2005)

"O público emburreceu", diz Ewald

O crítico de cinema Rubens Ewald Filho está decepcionado com o público em geral que assiste cinema. Afirma que as pessoas “emburreceram”, por verem apenas histórias consideradas “água-com-açúcar”, e não “temas mais sérios”. Para ele, são exatamente os espectadores os responsáveis pela não-exibição de fitas não-comerciais nas salas espalhadas no país. São trechos da entrevista dada por ele à coluna Coisas de Cinema.

Com 60 anos, completados em sete de março (ele faz questão de esconder a idade, mas aqui não teve jeito), Filho é o crítico de cinema mais conhecido no Brasil, até porque é o que mais aparece na televisão. Comentarista oficial da entrega do Oscar desde 1985, seja no SBT, Globo ou na TV a cabo, como ocorreu este ano, está sempre ligado em tudo que acontece na sétima arte.

Começou a carreira no fim da década de 1960, como ator. Trabalhou em cinco filmes, todos dos anos 1970, época da porno-chanchada brasileira. Não teve sucesso. Depois, escreveu sete novelas (entre elas “Éramos Seis”, duas vezes) e fez o roteiro de dois filmes, entre 1977 e 1994. No mundo do cinema, é autor dos vários livros da coleção “Aplauso”, que traçam a biografia de estrelas do cinema tupiniquim, e de guias dos melhores filmes lançados em DVD. Tem um site próprio (www.cinemacomrubens.com.br), além de escrever regularmente para o provedor UOL e o site www.epipoca.com.br . A seguir, a entrevista, a segunda desta coluna (a primeira foi com o diretor Carlos Diegues, publicada em 26 de junho de 2004):

A audiência das festas do Oscar nos últimos anos tem caído bastante. Qual a razão disso acontecer? O Oscar não tem mais aquele brilho de antigamente?

São inúmeras razões. Entre elas, o fato de existirem 200 canais nas televisões a cabo hoje em dia. A audiência de tudo caiu, não apenas do Oscar. De qualquer forma, a festa este ano foi mesmo muito fraca, sem dúvida alguma. [Segundo informações retiradas do site www.folha.com.br, em 2005 41,5 milhões de telespectadores viram a festa do Oscar, bem abaixo de outros anos, quando a transmissão chegou a ultrapassar 55 milhões de pessoas em frente à TV]

Clint Eastwood disse recentemente que as pessoas gostam de seus filmes porque eles "não têm efeitos especiais". Ele está com a razão? Atualmente, há uma avalanche de fitas cujos "protagonistas" são efeitos especiais?

Sim, o público emburreceu, foge de temas sérios. Isso afastou certa platéia mais interessada das salas de cinema. As salas ficaram nas mãos de adolescentes masculinos que só gostam de videogame.

Depois de Sônia Braga e Rodrigo Santoro, é a vez do diretor Walter Salles desembarcar em Hollywood. Isso mostra o interesse dos norte-americanos pelo talento brasileiro? Esse fato pode abrir portas para cineastas e atores daqui?

Não, isso é normal. Os americanos sempre chamaram os melhores de todo o mundo, de qualquer parte, para trabalharem lá. Sempre foi assim e continua sendo.

As salas de cinema exibem apenas filmes comerciais. O senhor acha que se estas casas exibissem em pelo menos uma sala filmes não-comerciais, como o excelente "O Cachorro", da Argentina, por exemplo, o público compareceria? Ou não haveria público para esse tipo de fita, já que esses espectadores (maioria) estão acostumados com histórias "água-com-açúcar"?

Infelizmente, os donos desse tipo de complexos de salas são comerciantes. Passam só o que dá dinheiro. Se não exibem outros tipos de filmes, os não-comerciais, é porque já quebraram a cara. A culpa é do público, e não deles.

Porque os filmes brasileiros, depois de boa retomada, caíram nas suas qualidades? A grande porcentagem da Globo Filmes pode ser considerada culpada, com elenco globais etc?

Nada a ver com a Globo. Tem até de agradecer a ela. Infelizmente, acho que o brasileiro não foi criado, digo o cineasta, com a mentalidade de fazer sucesso, de atingir grandes platéias. Parecem ter vergonha disso, ou não assumem que não há vergonha nenhuma em fazer dinheiro e atingir grandes públicos. Veja a crítica da [revista] “Veja” com o filme “2 Filhos de Francisco”. Ela aceita que o filme seja bom, e é mesmo, para depois afirmar que o Zezé di Camargo e o Luciano continuam bregas. Continuam sim, mas e daí?

Quantos dvds e fitas vhs tem na sua casa? Qual foi o maior período em que ficou sem ver um filme sequer?

Respondendo a primeira pergunta, não sei quantos filmes tenho. Perdi a conta. Devem ser uns quatro mil mais ou menos. Quanto à segunda, em viagens talvez, mas sempre arrumo um jeito de ir ao cinema em qualquer parte, mesmo se o filme não tiver legenda.

Quais atores / diretores que o senhor conheceu pessoalmente e que não foram simpáticos no encontro?

Só não gostei do [Arnold] Schwarzenegger e do Kevin Costner. São falsos e metidos. Os outros são profissionais. Diretor é melhor que ator, porque tem mais a dizer pra gente. Os europeus têm mais cultura que os americanos.

Quais são os cinco melhores diretores e os cinco melhores atores / atrizes nestes quase 110 anos de cinema?

É difícil dizer, impossível... Meus favoritos sempre foram [Federico] Fellini, Bette Davis e [Humphrey] Bogart.

E qual foi o último filme que o senhor assistiu? Resumidamente, qual a sua opinião sobre ele?

Vi ontem “O Castelo Animado”. Gostei muito. É simpático, divertido, diferente e encantador. [O desenho japonês “O Castelo Animado” conta a história de uma garota de 18 anos que, devido a um feitiço, vive no corpo de uma anciã de 90 anos. Está em cartaz em algumas salas]

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/10/2009
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