Conde Orlok (publicado originalmente em 27/8/2009)
Em determinada sequência de ‘Nosferatu’ (1922) Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) entra no quarto do Conde Orlok (Max Schreck) e, surpreso, depara-se com um esquife. Assustado, mas curioso para saber quem repousava ali, se aproxima vagarosamente. A câmera já dá o alerta ao espectador de que o nobre Orlok está deitado e com os olhos bem abertos. É horripilante. Hutter não aguenta o medo e corre do local. Na outra cena, novamente o mocinho, um jovem imobiliário que precisar vender o castelo aonde mora o conde, percorre a mansão e, pela pequena fresta de vidro da porta observa o sanguinário despertar do sono. Os movimentos são muito bem postos – Orlok fica em pé numa oscilação de 90 graus, como se ele tivesse desmaiado ao contrário. Apavorante, do mesmo modo. E não apenas isto. A figura de Schreck é de arrepiar. Os dentes caninos são saltados para frente, nos lugares dos dois principais. Não tem cabelos e a sombra nos seus olhos deixa-o com aspecto monstruoso. De fato, o Drácula número um da sétima arte.
‘Nosferatu’ foi rodado na Alemanha há quase 90 anos e ainda hoje é a referência dos filmes sobre o chupador de sangue. Dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau, a obra é um dos expoentes do movimento expressionista alemão, que possui, por exemplo, ‘O Gabinete do Doutor Caligari’ (1920) como destaque. Como não poderia deixar de ser, a fotografia de Günther Krampf e Fritz Arno Wagner segue a tendência da época: tomadas tortas, personagens andando corcundamente e histórias macabras. Trata-se de uma fita muda e, por causa disso, a música de Hans Erdmann, Carlos U. Garza, Richard O'Meara e Wetfish serve para complemento de enredo e não deixa de ter importância. No todo, o longa é correto e cumpre o papel.
O roteiro de Henrik Galeen é baseado no livro ‘Drácula’ de Bram Stoker, publicado em 26 de maio de 1897. Quando Murnau resolveu adaptar as páginas às telonas, a família do escritor quis impedir e não o autorizou a usar o nome do vampiro no filme. Assim, o diretor criou Nosferatu, o que também consegue arrepiar o público só de ler esta denominação. O script segue rigorosamente a trama de Stoker. Entretanto Murnau trouxe a obra para se passar na Alemanha. Então, um agente imobiliário (Hutter) vai ao Montes Cárpatos (o local passa por Alemanha, Hungria e Romênia) para vender enorme castelo no Mar Báltico. A tal residência pertence ao conde Orlok, uma pessoa com hábitos excêntricos: dormir em caixão durante todo o dia e vagar pelas ruas ao redor na madrugada. Na verdade, é um vampiro milenar que quer mais e mais poder. Para tanto, decide se mudar para Bremen, na Alemanha. Na viagem de barco, os tripulantes são mortos, um a um – o conde precisava beber alguma coisa boa e nada melhor do que o sangue humano.
Orlok quer Ellen (Greta Schröder), a namorada de Hutter. Em busca deste amor não correspondido, Nosferatu espalha o terror por toda a região germânica. A população chega a pensar que está sob domínio da Peste Bubônica (a conhecida ‘Negra’), doença que dizimou milhões de pessoas durante a Idade Média, pois o conde elimina pessoas para atingir seu intento: roubar Ellen e transformá-la em sua princesa eterna.
‘Nosferatu’ foi refilmado duas vezes. A primeira foi em 1978, na própria Alemanha, com direção de Werner Herzog e Bruno Ganz e Klaus Kinski no elenco. Na segunda, 14 anos depois, o diretor Francis Ford Copolla conseguiu permissão da família Stoker e intitulou a fita ‘Drácula de Bram Stoker’ (1992). O filme arrebatou três Oscars – figurino, efeitos sonoros e maquiagem. Tinha Anthony Hopkins no elenco.