No Thunderbird 66 (publicado originalmente em 13/8/2009)
Um belo dia, Thelma Dickinson e Louise Sawyer, amigas de longa data, resolvem apedrejar todos os dias passados. A borracha tem uma explicação: exaustas da vida inglória que levam, tomam a decisão de sumir por aí. A primeira, por exemplo, convive diariamente com o marido cachaceiro e malandro, dos que tratam a mulher como se ela fosse brinde doméstico do casamento. A outra, por sua vez, trabalha em uma lanchonete como garçonete, tem o namoro levado nas idas e vindas, sem sal nenhum. Assim, a fuga é a melhor solução, concluem. Arrumam as valises e vão rumo a escapulida. A aventura será inesquecível.
Foi bem estranho notar quem seria o diretor da obra cinematográfica: Ridley Scott. Acostumado aos longas-metragens de ficção científica, como ‘Blade Runner: O Caçador de Andróides’ (1982) e ‘Alien: O Oitavo Passageiro’ (1979), caiu em suas mãos um roteiro ‘feminino’, da estreante Callie Khouri. R. Scott, então, aceitou comandar esta história, produzida pela própria Callie e o diretor, além de também Dean O’ Brien e Mimi Gitlin. ‘Thelma & Louise’ começava, desta maneira, a ser desenhado em frente às câmeras.
De largada, o sucesso da fita já era esperada por causa de seu diretor. A expectativa aumentou com o anúncio da dupla de protagonistas: Geena Davis e Susan Sarandon. Atrizes de carreira em ascensão, as duas vinham de recentes explosões de bilheteria. Geena encabeçara ‘Os Fantasmas se Divertem’ (1988) e ‘O Turista Acidental’ (1988), pelo qual recebera Oscar de atriz coadjuvante. Susan havia filmado, quatro anos antes, ‘As Bruxas de Eastwick’, ao lado de estrelas do porte de Jack Nicholson, Michelle Pfeiffer e a cantora-atriz Cher. Claro, a dedução era transparente: ‘Thelma & Louise’ estava com o brilho garantido.
Foram 64 dias de filmagens em 54 locais diferentes. A equipe mal parava em uma locação e já tinha de se movimentar à outra. As estradas de Los Angeles e Utah foram usadas como cenários reais de fundo. E, realmente, as duas atriz fulguram na telona. O entrosamento é inegável. O bate-e-volta nas sequências é fulminante. Uma dá a outra o suporte necessário para que a cena se saia bem. O elenco de apoio, com o veterano Harvey Keitel como investigador à procura de ambas, e o então novato Brad Pitt, com somente quatro anos de profissionalismo, conseguem deixar ainda mais linear o filme de Scott. Uma ótima proeza.
Nesta comédia dramática, Thelma é completamente desajeitada e um tantinho inocente. Entrega-se facilmente a paixões de rua e, devido a esta parte lasciva, se mete em muitas e perigosas armações. Louise vem a ser o seu oposto. Centrada, comedida e segura de si, ela é quem puxa Thelma das nuvens quando a amiga se encrenca com maus elementos. No seu Thunderbird 1966, um dos carros antigos mais populares do mundo na época, as companheiras passeiam pelos EUA sem imaginar o tumulto que está no lado sério do país. A polícia procura-as e quer as explicações para inúmeros roubos, alguns furtos e até assassinatos.
Ganhador do Oscar de roteiro original, ‘Thelma & Louise’ esteve presente na lista das categorias de atriz (Geena e Susan competiram juntas), montagem e fotografia. A película, com um quê de ‘Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas’ (1967), mas com um casal homogêneo, triunfou magnificamente. E não era para menos. Há de tudo ali – desde risadas ingênuas até emoções decisivas. R. Scott acertou ao perceber a qualidade daquele script. O filme ultrapassou os limites comerciais e se tornou de audiência obrigatória.