Oskar, um homem (publicado originalmente em 23/7/2009)
O diretor Steven Spielberg é aficionado pelas histórias da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Já escreveu ensaios acerca do assunto (a família dele é de origem judaica, povo que mais sofreu no conflito), montou documentários e, como a sua praia é de fato longas-metragens, realizou dois estupendos trabalhos envolvendo o tema: ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998) e ‘A Lista de Schindler’ (1993), matéria de hoje deste espaço. Tanto a obra sobre Ryan, um soldado perdido em meio às batalhas, quanto a do oportunista e sedutor Oskar Schindler são dignas de prêmios Nobel, particularmente a de 16 anos atrás, quando ele, o diretor, ‘estreou’ neste tipo de setor do cinema – o de desempenhar papéis de épocas bastante sombrias.
Oskar é um sujeito bon vivant. Discreto, charmoso e fascinante, atraía pessoas perto dele pelo reles objetivo de se dar bem. Comerciante no mercado negro, pertenceu ao Partido Nazista. Nasceu no antigo município de Zwittau-Brinnlitz, atual Svitavy, na República Tcheca, em 28 de abril de 1908 e assinou a ficha de filiação após a anexação das cidades pelos súditos de Hitler. Tinha bom trânsito no partido. Mas, no entanto, foi preso algumas vezes por mau comportamento. Por seus bons contatos, era liberado alguns dias depois. Possuía uma qualidade: amava o ser humano. Isso o fez entrar em uma guerra bem particular.
Hoje a biografia de Schindler é amplamente conhecida devido a alta exposição e repercussão que o filme de Spielberg teve em todo o planeta. Entretanto, poucos sabiam da atuação dele nos anos 1940 para ajudar judeus a escaparem de campos de concentração e, por consequência disto, da morte certa. No total, mais de mil pessoas foram beneficiadas por este gesto pacífico do empresário. Ele, inclusive, montou uma empresa praticamente fictícia para poder empregar esta gente e, portanto, ter a justificativa a dar se fosse interpelado por nazistas exaltados. Sua vida se transformou a partir daí e, pasmem, Schindler não morreu numa câmara de gás e nem foi fuzilado... A ‘lábia’ dele era tamanha que conseguiu enrolar o necessário.
Na fita, Liam Neeson, com então 12 anos de carreira e nenhum sucesso avassalador, o encarnou de forma brilhante. O requinte e a elegância das falas fixaram a ‘marca’ dele nas cenas. Spielberg contribuiu demais com a direção precisa. A sequência final, em que ele, aos prantos, diz ao amigo judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley, eternizado como Gandhi): “Poderia ter salvado mais...”, e recebe em resposta: “O que fez foi incrível. Todos se lembrarão de você”, é de dar dois nós na garganta. Com certeza, um dos momentos inesquecíveis da história do cinema. Por tudo isto, ganhou sete dos 12 Oscars que disputou, dentre eles o de filme e diretor. E quando recebeu o troféu, Spielberg disparou: “Dedico este prêmio às seis milhões de pessoas que não podem estar aqui hoje”, referindo-se aos judeus chacinados na Segunda Guerra Mundial. Ralph Fiennes (de ‘O Paciente Inglês’) completou o cast como Amon Goeth, o militar nazista truculento.
Considero ‘A Lista de Schindler’, ao lado de ‘O Silêncio dos Inocentes’ (91), as melhores películas da década de 1990 que ganharam Oscar de melhor filme. E é impressionante como Hollywood perdeu o tom de filmes como estes, onde os atores valem mais que efeitos especiais. L. Neeson e Anthony Hopkins (de ‘O Silêncio..’) são maiores do que carros andando, pontes voando e pessoas pulando de pontes. Fim.