Um homem e seus ideais (publicado originalmente em 16/7/2009)

Nada há de poesia neste título. Isto se deve a Larry Flynt. Reconhecido mundialmente em meados da década de 1970 por meio da revista Hustler, da qual era diretor-presidente, este homem atualmente de 66 anos teve uma vida marcada por controvérsias e avessos. Não consegue ligar o nome à pessoa? Pois se faça aqui a explanação. Flynt foi o responsável por um dos maiores escândalos envolvendo a pornografia. Boêmio, alcoólatra e viciado em drogas, o empresário fundou a publicação para concorrer com a Playboy, segundo ele, inocente demais. Quis polemizar com fotos muito ousadas. Flynt enfrentou, assim, batalhas.

Bastante influenciado pela esposa Althea, de categoria igual ou superior aos atributos do editor, a Hustler embasbacou metade dos EUA e revoltou os outros 50%. L. Flynt ficou multimilionário, expandiu a revista em milhões de exemplares. E com a mesma velocidade que atingiu o cume dos desafios, capotou para a bancarrota inquestionável. A débâcle veio à tona quando ele já estava perpetuado a viver na cadeira de rodas, vitimado que foi por uma bala de um ‘rebelde religioso’ durante a longa sessão de julgamentos.

Claro, o cinema não ficou de fora deste fio da navalha. Milos Forman, diretor de clássicos como os filmes ‘Um Estranho no Ninho’ (1975) e ‘Amadeus’ (1984) – ambos ganhadores do Oscar de melhor fita, liderou a trama. Pôs – e foi felicíssimo neste ponto – os atores Woody Harrelson e Courtney Love (recém enviuvada do roqueiro Kurt Kobain) nos papéis principais (Flynt e Althea). Ponto final. A dupla basta e o longa-metragem flui na sincronia das páginas do script escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski.

Forman não se tolheu às cenas de orgia. Ademais, ‘O Povo Contra Larry Flynt’ (1996) é canônico e quase puro. As desgraças por que passa o protagonista são exibidas com a fina flor da câmera colorida do diretor. Até pode-se fazer paralelo entre o trio de personagens destes três principais trabalhos dele: Randle P.McMurphy (Jack Nicholson em ‘Um Estranho no Ninho’), Wolfgang Amadeus Mozart (Tom Hulce em ‘Amadeus’) e este Larry Flynt. Sendo os dois últimos pessoas reais, lidar com eles seria tarefa um pouco mais difícil para Forman. Seria. Tanto Nicholson como Hulce e Harrelson estão impecáveis em cena. Isto mostra a mão boa do diretor em moldar figuras que, logo, fixam-se como eternas no panteão das telonas.

Há de se destacar ainda a persona de Courtney Love. O que é esta mulher? Uma salada de tudo e de nada. Não é a mais bem preparada atriz de Hollywood, porém usa o seu talento para explorar ao máximo a composição de Althea. Obviamente, entram nesta pasta os males de que ela padeceu na vida verídica: os milhares de litros de álcool que ingeriu somados às tantas picadas de injeção para ter a cocaína sempre à baila. Courtney deu a Althea seu alterego. Na sua carreira de atriz (ela também é cantora) havia atuado em filmes de pequeno ou médio escalões, como a cinebiografia do pintor norte-americano Basquiat em 1996.

‘O Povo Contra Larry Flynt’, como de praxe, por se tratar de um tema ultrajante e ousado, foi posto de lado pelos prêmios. Da Academia, por exemplo, obteve somente duas indicações: diretor e ator. Perdeu ambas. No Globo de Ouro, dois troféus: diretor e roteiro, além de concorrer em filme, ator e atriz, todas em drama. Por fim, o Urso de Ouro em Berlim. Mas concordemos: merecia mais pela estonteante história.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/10/2009
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