Somente um filme ruim (publicado originalmente em 25/6/2009)
Se você quiser saber acerca da história da Inglaterra no século 16 e gosta de cinema, há nos últimos anos três filmes sobre o assunto. Eles podem até não ser tão bons assim, mas ajudam a compreender o que significou aquele período espetacular e glorioso para a Europa. Hoje tratarei aqui de ‘A Outra’ (2008), na cronologia o primeiro a ser apreciado (a dupla restante é ‘Elizabeth’ –1998 e ‘Elizabeth: A Era de Ouro’ –2008; ambas com Cate Blanchett no papel-título). ‘A Outra’ mostra a biografia das irmãs Bolena – Maria e Ana, interpretadas respectivamente por Scarlett Johansson e Natalie Portman. Convencidas por seu pai e seu tio, foram enviadas à corte do rei Henrique VIII (Eric Bana, numa atuação precária) para lhe servirem de amantes, pois sua mais recente esposa, a rainha da Escócia Catarina de Aragão (Ana Torrent), tinha ido embora do reino por não ter conseguido dar a ele um varão. O rei logo se interessou por Maria e com ela teve dois filhos não reconhecidos por ele: Henrique e Elizabeth, a futura rainha dos filmes anteriormente citados. Ana, a realmente interessada em formar família com o supremo, não conseguiu levar adiante tal intenção. Chegou, dizem historiadores, a cometer incesto e ter filhos com o próprio irmão, George Bolena (Jim Sturgess) e enganar, com isso, o rei Henrique. Tanto Ana quanto George foram condenados à morte e decapitados em seguida. Maria observou tudo de maneira desesperada. Tentou, em vão, demover o rei para que desistisse da pena. Os irmãos eram acusados de trair o reinado e também de práticas de bruxaria.
O diretor inglês Justin Chadwick tinha a pretensão de levar às telonas um filme épico, e apenas se expôs de forma claudicante. Estreou mal na sétima arte. Havia trabalhado como ator e diretor em algumas séries de TV até desembarcar neste projeto imenso para ele. Não imprimiu emoção à fita. Quem foi à sala de cinema saiu, se não decepcionado, pelo menos frustrado. Apesar de o roteirista ser o competente Peter Morgan, de ‘A Rainha’ (2007) e ‘Frost / Nixon’ (2008), o longa-metragem não decolou... Tudo se perdeu, desde a fotografia opaca de Kieran McGuigan (como Chadwick, debutante no ecrã), com certas imagens embaçadas, o figurino extravagante de John Paul Kelly (de ‘Vênus’ –2007, com Peter O’Toole) e direção de arte capenga. Tudo saiu conforme o ‘inesperado’. A escalação dos atores foi outro ponto infeliz. O trio Eric Bana, Natalie Portman e Scarlett Johansson pode refletir a bela imagem diante das câmeras, mas não só de beleza vive o cinema. As atuações comprometeram demais a trama. O elenco de apoio, formado por Jim Sturgess, Kristin Scott Thomas, Mark Rylance e Ana Torrent nem tenta resguardar os protagonistas, pois eles sofreram, no filme, do mesmo mal dos centrais: falta de unidade. Quando isto ocorre o principal, senão o maior culpado, é o diretor. Neste caso, sim. Chadwick arriscou pouco, o que é compreensível por ele ser estreante. Entretanto, lidar com o elenco estelar foi difícil. Bana, Natalie e Scarlett queriam impor-se forçadamente. O diretor, inexperiente e pacato, consentiu. E então 75% do filme ficou comprometido.